
A bancada do PL, liderada pelo deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), tem atuado junto aos líderes da oposição para tentar postergar uma eventual perda de mandato do deputado Eduardo Bolsonaro (SP). O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro é alvo de um pedido de cassação no Conselho de Ética e pode ainda ser cassado por conta das faltas nas sessões de votações da Câmara.
Sóstenes esteve nos Estados Unidos na semana passada para se reunir com Eduardo Bolsonaro e discutir as estratégias em relação ao seu mandato e sobre o projeto da anistia aos presos do 8 de janeiro. O filho do ex-presidente tem se posicionado contra a proposta do relator de transformar o texto em uma dosimetria das penas aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Além do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA tem provocado reações de ministros do STF. Motta, inclusive, barrou a indicação de Eduardo para a liderança da Minoria, após as novas sanções americanas contra familiares do ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky.
“Depois da Magnitsky contra a esposa e o escritório do ministro Alexandre de Moraes, eu recebi uma ligação do presidente Hugo Motta, falando que ele não poderia mais cumprir comigo o compromisso. Ele disse que o tom ficou muito acima da média, ou seja, ele não me afirmou, mas eu entendi que foi por retaliação ao que aconteceu com a família do ministro Alexandre de Moraes”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante.
O PL havia escolhido Eduardo para o posto de líder, ocupado anteriormente por Caroline de Toni (SC). O objetivo era salvar o seu mandato, pois, pelas regras do regimento da Câmara, a ausência de líderes nas sessões não leva à cassação. Motta, no entanto, rejeitou o pedido, alegando “não haver a possibilidade do exercício do mandato parlamentar estando ausente do território nacional”.
“Nós entendemos que essa é mais uma tentativa de punição, perseguição e de censura à oposição desta Casa. Nos causa realmente espanto que, um dia depois da sanção aplicada à esposa do Alexandre de Moraes, venha esse tipo de pressão externa à Câmara dos Deputados, fazendo com que o presidente Hugo Motta faça esse indeferimento. Não podemos aceitar esse tipo de violação às nossas prerrogativas parlamentares”, disse Caroline de Toni após a decisão de Motta.
A decisão do presidente da Câmara foi contestada por meio de um recurso. A oposição argumenta que Motta teria que cancelar o benefício de não ter faltas registradas para todos os líderes da Câmara, pois a medida tem que valer para todos e não apenas para uma pessoa específica.
Parlamentares do PL ouvidos pela reportagem admitem nos bastidores que a estratégia atual é justamente tentar postergar qualquer decisão que antecipe a perda de mandato de Eduardo Bolsonaro. O temor entre os integrantes da oposição é de que o filho do ex-presidente seja cassado diante da pressão do STF e do governo de Luiz Inácio Lula da Siva (PT). Esse tensionamento em relação a Eduardo pode impactar no calendário de votação do projeto da anistia.
Indefinição sobre anistia retarda possível anúncio de Tarcísio como candidato ao Planalto
Votação do PL da anistia depende de acordo com Senado e partidos, diz relator
Oposição aposta em suspensão do mandato de Eduardo Bolsonaro
Escolhido para relatar o pedido de cassação de Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética, Marcelo Freitas (União-MG) deve apresentar um parecer preliminar até quarta-feira (1º). Em caso de aprovação, começa a fase de instrução do processo.
Nessa etapa, Eduardo Bolsonaro poderá indicar até oito testemunhas para prestar depoimento ao Conselho. O prazo regimental para a conclusão do processo é de até 90 dias, mas a expectativa é de que o parecer seja apresentado até novembro.
Ao final desse prazo, o relator pode pedir a absolvição ou a condenação de Eduardo Bolsonaro. No lugar da cassação, Marcelo Freitas pode sugerir a punição de censura, advertência ou suspensão de até seis meses do mandato.
A expectativa entre alguns deputados da oposição é de que justamente o parlamentar proponha apenas a suspensão do mandato de Eduardo Bolsonaro por até três meses. Segundo os parlamentares ouvidos pela reportagem, o parecer do relator seria uma vitória, pois as faltas durante a suspensão não são computadas.
Com isso, a oposição também conseguiria, na contabilidade final de 2025, que Eduardo Bolsonaro não tenha número de ausências para a perda do mandato. Até o último dia 24, Eduardo Bolsonaro já havia acumulado pelo menos 23 faltas não justificadas (62,16% das sessões) em 2025.
A Constituição Federal determina que deputados e senadores podem perder o mandato se deixarem de comparecer a um terço das sessões ordinárias deliberativas de cada ano legislativo. As exceções são para licença ou missão autorizada.
“Não vamos aceitar pressão externa para impedir o exercício do mandato. Nós do PL e da oposição não vamos deixar um dos nossos soldados para trás, muito menos o deputado Eduardo Bolsonaro”, defendeu Sóstenes Cavalcante.
Partido de Lula pressiona por cassação de Eduardo pela Câmara
Na contramão da articulação da oposição, o PT, partido do presidente Lula, pressiona para que Eduardo Bolsonaro seja cassado por quebra de decoro parlamentar. Caso o relator proponha censura, advertência ou suspensão, a decisão é definitiva dentro do próprio Conselho de Ética. Mas, se a pena proposta for a de cassação do mandato, o parecer precisa ser votado em plenário da Câmara, em votação aberta e com maioria absoluta (257 deputados).
“Eduardo Bolsonaro está há meses no exterior atuando contra o próprio país. Sua conduta é incompatível com o cargo de parlamentar. Ele age contra a soberania nacional, tentando pressionar a Justiça e buscar sanções que prejudicam o Brasil apenas para livrar a si e sua família da cadeia. Com mobilização, podemos pressionar a cassação do seu mandato”, defendeu o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), vice-líder do governo.
A expectativa dos líderes governistas, inclusive, é de que a pressão do STF ajude no andamento dos processos contra Eduardo Bolsonaro na Câmara. Apesar disso, o relator do processo no Conselho de Ética tem sinalizado que vai fazer uma “análise técnica para considerar se o filho do ex-presidente Bolsonaro agiu no livre exercício do mandato ou atentou contra as instituições democráticas”.
“Pretendo executar essa missão, de conduzir esse processo disciplinar, com absoluta imparcialidade e isenção. Eventuais alegações de amizade ou inimizade não têm o condão de interferir em qualquer esfera de suspeição ou parcialidade”, disse Marcelo Freitas.
A liderança do PT protocolou nesta terça-feira (30) um pedido para que o deputado escolhido para relatar o pedido de cassação de Eduardo seja declarado suspeito. Marcelo Freitas é apontado como aliado da família Bolsonaro e foi designado para relatar o caso pelo presidente do Conselho de Ética, Fabio Schiochet (União-SC). Ele foi escolhido em uma lista com outros dois membros do colegiado: Duda Salabert (PDT-MG) e Paulo Lemos (PSOL-AP).
“А manutenção de relator que publicamente chama o investigado de ‘amigo’ e proclama fidelidade a seu grupo político constitui evidente quebra dessa exigência, tornando o processo viciado em sua origem”, diz um trecho da petição do PT.
Questionado sobre o pedido apresentado pelo PT, Freitas alegou “que o Código de Processo Penal e o Código de Processo Civil exigem para suspeição é que haja amizade íntima ou inimizade capital”. “Nenhuma dessas duas circunstâncias encontra-se presente no nosso caso. Nunca frequentei a casa do deputado Eduardo Bolsonaro e, muito menos, ele a minha”, argumentou.
📢 Belford Roxo 24h – Aqui a informação nunca para
📞 WhatsApp da Redação: (21) 97915-5787
🔗 Canal no WhatsApp: Entrar no canal
🌐 Mais notícias: belfordroxo24h.com