
A Nasa está correndo contra o tempo para garantir o retorno dos Estados Unidos à Lua. Por trás dessa pressa está a disputa com China e Rússia pela liderança na nova corrida espacial, marcada pelo avanço de projetos nucleares no satélite natural e pela busca de presença permanente fora da Terra. Também há um componente político: o presidente Donald Trump quer que o retorno americano à Lua ocorra ainda durante o seu mandato, transformando o ato em símbolo da retomada do protagonismo dos EUA no espaço.
Em entrevista recente à emissora Fox News, o administrador interino da Nasa, Sean Duffy, ao criticar supostos atrasos da SpaceX na entrega de projetos, afirmou que o governo dos EUA não pode mais depender exclusivamente da empresa de Elon Musk para cumprir o cronograma da missão de retorno à Lua e pontuou a questão política por trás da pressa.
“[…] Estamos em uma corrida contra a China. O presidente [Donald Trump] e eu queremos chegar à Lua durante este mandato”, disse Duffy, ao anunciar que a Nasa abrirá o contrato para construção da base americana na Lua para outras companhias espaciais privadas, como a Blue Origin, de Jeff Bezos.
O plano lunar dos EUA
O objetivo dos Estados Unidos é retornar à superfície da Lua até 2027, na missão Artemis III, que marcará o primeiro pouso tripulado americano no satélite em mais de cinco décadas. Com quatro astronautas e duração prevista de cerca de 30 dias, a missão é descrita pela Nasa como “um dos empreendimentos mais complexos de engenharia e engenhosidade humana na história da exploração do espaço profundo”. Os tripulantes deverão explorar a região do polo sul lunar, coletando amostras e dados que ampliarão o conhecimento sobre o sistema solar e sobre o próprio planeta Terra.
Já até 2030, a Nasa planeja instalar um reator nuclear no polo sul lunar, concebido para garantir energia contínua e independente às futuras bases científicas e habitáveis no satélite natural. Essa etapa é considerada essencial para consolidar o Programa Artemis, principal iniciativa da agência para estabelecer presença humana permanente fora da Terra.
De acordo com a BBC e a Euronews, este reator nuclear americano deverá ter potência de 100 quilowatts, o suficiente para gerar energia contínua em regiões sem luz solar. O sistema, do tipo reator de fissão compacta, transforma o calor gerado pela divisão de átomos de urânio em eletricidade, capaz de sustentar missões e bases lunares por até uma década. A Nasa considera o reator essencial para manter astronautas e equipamentos operando de forma autônoma, garantindo o suporte necessário às missões de longa duração.
Resposta à aliança sino-russa
A pressa americana também é uma reação direta à parceria entre China e Rússia, que prevê a construção de uma usina nuclear automatizada na Lua até 2035, dentro da chamada International Lunar Research Station (ILRS) – uma base científica conjunta planejada para ser desenvolvida também no polo sul da Lua, segundo a emissora DW.
A ILRS deverá operar de forma autônoma, abastecendo equipamentos e futuras missões tripuladas. A missão Chang’e-8, da China, prevista para ocorrer em 2028, levará os primeiros módulos estruturais para a construção do local.
A escolha das três potências pelo polo sul da Lua reflete o valor estratégico da região, rica em depósitos de gelo, que podem fornecer oxigênio e combustível de foguete, além de conter metais raros e o hélio-3, um potencial combustível para reatores de fusão limpa.
Infraestrutura como poder
A instalação de reatores nucleares na Lua representa, para os Estados Unidos, um passo estratégico para garantir presença e poder duradouro em território lunar, em meio à tentativa de China e Rússia de impor suas próprias regras no espaço.
Em declarações à imprensa americana em agosto, Duffy afirmou que “a primeira nação a instalar um reator [nuclear] na Lua poderá declarar uma área de segurança que dificultará o acesso de outras potências”.
Em artigo publicado no site The Conversation, a professora Michelle Hanlon, especialista em Direito Espacial da Universidade do Mississippi, explica que “a primeira corrida espacial foi sobre bandeiras e pegadas. Agora, a disputa é por quem constrói – e construir depende de energia”.
Hanlon observa no texto que a disputa espacial em curso entre Estados Unidos, China e Rússia é uma corrida por infraestrutura – e, nas palavras dela, “infraestrutura significa influência”. Para a professora, o país que conseguir gerar energia de forma estável fora da Terra terá poder para definir normas, condutas e interpretações legais sobre como a presença humana deve ocorrer na Lua.
A autora observa que o Tratado do Espaço Exterior de 1967 proíbe reivindicações territoriais, mas permite a criação de instalações permanentes para fins pacíficos – o que, na prática, pode dar controle funcional sobre áreas estratégicas.
“Colocar um reator na Lua não é uma declaração de guerra nem uma reivindicação de soberania, mas estabelece um ponto de presença que outros precisarão contornar – legal e fisicamente”, escreveu.
Para Hanlon, o avanço nuclear na Lua inaugura uma nova fase na corrida da exploração espacial, onde o poder das potências mundiais será demonstrado não por quem planta a bandeira primeiro, mas por quem constrói e mantém a infraestrutura necessária para permanecer.
Sucesso do plano dos EUA vai depender de investimento no Artemis
A comunidade científica considera a energia nuclear essencial para sustentar a presença humana fora da Terra. O professor Lionel Wilson, da Universidade de Lancaster, disse à BBC acreditar que é tecnicamente possível para os EUA colocar um reator nuclear na Lua até 2030, “com investimento suficiente”.
Segundo ele, “já existem projetos de pequenos reatores” sendo estudados, o que torna a meta dos EUA alcançável – desde que o país mantenha o ritmo de lançamentos do programa Artemis, voltado a transportar pessoas e equipamentos para o satélite.
“Tudo depende de haver lançamentos suficientes do programa Artemis para construir a infraestrutura na Lua até lá”, disse Wilson.
📢 Belford Roxo 24h – Aqui a informação nunca para
📞 WhatsApp da Redação: (21) 97915-5787
🔗 Canal no WhatsApp: Entrar no canal
🌐 Mais notícias: belfordroxo24h.com