
Uma matéria do Valor sob o título “Rebeca Andrade: a ginasta que vai se formar psicóloga”, é uma excelente referência ao número crescente de atletas que, ao perceberem que sua carreira começa a dar sinais de esgotamento, buscam desenvolver uma nova atividade que traga sentido e continuidade à sua trajetória profissional.
Segundo Rebeca, “as expectativas das pessoas são as expectativas das pessoas. Hoje chego numa competição feliz, leve. Estou lá para dar 110% de mim. Espero, sim, o melhor resultado, mas se eu não conseguir, meu mundo não vai acabar. Hoje, eu – com 26 anos e campeã olímpica – tenho essa compreensão. Trabalho para evitar que aconteça de novo, mas tanto o erro como o acerto fazem parte da nossa vida, não só dentro do esporte, mas fora também. Eu me construí dentro desse quadradinho e fui me construindo assim.”
A atleta, que emocionou o público em sua apresentação de solo nas Olimpíadas de Paris e trouxe quatro medalhas para o Brasil, conta que a decisão de ingressar no ensino superior veio da preocupação em planejar sua transição de carreira, buscando uma nova identidade profissional com a qual se identificasse: a psicologia.
Ela não é exceção. Marcelinho Machado, campeão mundial de basquete, formou-se em marketing e hoje é comentarista esportivo. Fofão, ex-jogadora de vôlei, também cursou marketing e se tornou empreendedora na área de cosméticos. Luiz Sene, jogador de vôlei que se aposentou em 2023 após uma carreira no Brasil e na França, estudou gestão financeira e agora atua como consultor financeiro.
Segundo o ministro do Esporte, André Fufuca, atletas de alto rendimento se dedicam incansavelmente, mas, ao enfrentarem o momento de transição, muitos se veem desassistidos para lidar com os desafios da vida pós-carreira. Isso frequentemente resulta em dificuldades financeiras, falta de qualificação profissional e até problemas emocionais — reflexos de uma identidade construída exclusivamente em torno da performance.
E aqui está o ponto central: o que acontece com os atletas é um espelho do que ocorre com muitos executivos no ambiente corporativo. Ambos vivem ciclos de alta performance, reconhecimento e propósito intensamente ligados ao papel que exercem. E, quando esse papel se encerra, seja pela aposentadoria, desligamento ou mudança de contexto, surge o mesmo vazio de identidade.
A transição do atleta e a do executivo têm em comum a perda de pertencimento e de referência. Como no esporte, o ambiente corporativo forma “campeões” que, sem preparo, se tornam “ex” — e, como se costuma dizer, “ex” é pior que “vice”, porque o vice ainda tem função, enquanto o ex muitas vezes se sente descartado.
Nos programas que acompanho, os efeitos dessa desconexão surgem sob forma de depressão, separações conjugais e até suicídios. É por isso que, cada vez mais, as organizações precisam incorporar a lógica da transição planejada como parte da jornada profissional.
Assim como Rebeca Andrade trabalha para que o erro e o acerto façam parte da vida dentro e fora do esporte, o mundo corporativo precisa aprender a preparar seus “atletas” para novos ciclos — com antecedência, propósito e autoconhecimento. O ideal é que esse processo comece ao menos dois anos antes da aposentadoria ou da saída formal.
Em um mundo em que a longevidade se amplia de forma acelerada, planejar a transição não é um luxo. É uma questão de saúde mental, propósito e continuidade.
Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho da höft consultoria.
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