
A chegada ao Mar do Caribe do porta-aviões americano USS Gerald Ford e o lançamento da operação Lança do Sul contra o narcotráfico elevaram a pressão do presidente Donald Trump para forçar a queda do ditador venezuelano Nicolás Maduro. Segundo analistas, os cenários mais prováveis são uma deposição do ditador pelos seus próprios correligionários, um acordo sobre sua sucessão ou o início de ataques aéreos contra a Venezuela. Nesse cenário, o Brasil precisará adotar um posicionamento diplomático e o governo brasileiro terá que decidir entre o pragmatismo e o alinhamento ideológico com Caracas.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmou que a missão militar, sob responsabilidade do Comando Sul, que abrange a América Latina e o Caribe, visa combater o narcotráfico e o crime organizado transnacional, mas não deu detalhes sobre o que será feito.
Por ora, as forças americanas têm destruído embarcações suspeitas de transporte de drogas e feito manobras de demonstração de força. Mas esse cenário pode escalar.
A tendência da diplomacia brasileira é de continuar a narrativa de oferecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como mediador do conflito e protestar contra qualquer tipo de intervenção – ela ocorrendo ou não.
Se os Estados Unidos optarem por fazer ataques aéreos contra alvos no país, o discurso da diplomacia brasileira terá mais subsídios para fundamentar seus protestos contra intervenção em um país soberano, mesmo a Venezuela sendo uma ditadura.
O cientista político Márcio Coimbra, do Instituto Monitor da Democracia, avalia que o Brasil adotará uma postura de “cautela ativa”. O governo, diz ele, buscará reafirmar o princípio da não-intervenção, condenar o aumento da presença militar extrarregional e recorrer a fóruns internacionais e à ONU para defender a soberania venezuelana.
“O Itamaraty e o assessor presidencial Celso Amorim devem insistir que a militarização é incompatível com o perfil pacífico da região”, afirma. Ao mesmo tempo, Lula tentará manter diálogo com Washington e preservar os interesses econômicos do Brasil, sem romper com Maduro.
Se Maduro for deposto por forças internas da Venezuela ou deixar o poder por meio de um acordo político, o Itamaraty continuaria protestando, mas seria pressionado pela opinião pública e pela comunidade internacional a apoiar a realização de eleições no país – o que pode acabar gradualmente com a era do chavismo.
Segundo Coimbra, o Palácio do Planalto dificilmente apoiará eleições livres nos moldes exigidos pela oposição venezuelana, a menos que isso garanta a sobrevivência do chavismo ou evite uma invasão. “O discurso de Lula segue centrado na defesa de Maduro e na rejeição à pressão externa, sob o argumento de que a narrativa contra o líder venezuelano é pior do que a realidade”, resume.
Em ambos os casos, o Brasil terá que garantir a defesa de sua fronteira norte, se preparar para uma nova onda de refugiados e até para a infiltração de membros de segundo e terceiro escalão da ditadura chavista em território brasileiro em eventual busca de refúgio.
Para Daniel Afonso Silva, professor de Relações Internacionais da USP, o avanço americano impõe ao Brasil “uma questão extremamente delicada, com múltiplos níveis de implicação”. Além das relações com Washington, há impactos sobre o Mercosul e sobre a própria relação com Caracas.
Segundo ele, uma ofensiva dos Estados Unidos é interpretada como uma tentativa de Washington de defender seus interesses e reafirmar a zona de influência norte-americana no continente. “Essa visão questiona a capacidade de liderança diplomática do Brasil e do Mercosul”, afirma Silva.
Ele alerta que uma eventual queda de Maduro exigiria do Brasil equilíbrio entre a histórica defesa do princípio da autodeterminação dos povos e a necessidade de promover a estabilidade regional.
Lula defende Maduro e critica movimentação de navios no Caribe
Em 9 de novembro, durante a Cúpula Celac-União Europeia, em Santa Marta, na Colômbia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a escalada militar americana e defendeu que a América Latina permaneça uma “zona de paz”. O petista expressou solidariedade a Maduro e condenou “manobras retóricas recicladas para justificar operações ilegais”.
O impasse dominou as discussões, e o comunicado final do encontro incluiu menção ao “uso ou ameaça de força”, sem citar diretamente Washington — o que levou Caracas a se recusar a assinar o texto. Para especialistas, a diplomacia venezuelana cometeu um erro.
A ofensiva de Trump já incluiu bombardeios a embarcações sul-americanas, a classificação de cartéis como organizações terroristas e uma recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Maduro, acusado de chefiar o Cartel de Los Soles, classificado como organização terrorista. O ditador venezuelano reagiu com um plano de defesa baseado em guerra de guerrilha e uso de armamentos russos antigos.
Desde que cruzou o Estreito de Gibraltar rumo ao Atlântico, o USS Gerald Ford manteve o transponder desligado, uma indicação de missão militar em curso. Incorporado à frota americana em 2017, o porta-aviões é também o mais moderno do mundo e pode operar até 90 aeronaves simultaneamente, o que reforça o caráter estratégico da operação. Esse cenário interfere até no atual debate interno no Brasil relacionado ao combate às organizações criminosas.
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