
No último Natal, o “momento-uau” veio com um toque performático. “Ozempic Santa”, escreveu Elon Musk no X no ano passado, ao postar uma foto sua visivelmente mais magro, vestido com um traje vermelho e branco ao lado de uma árvore iluminada. “Tecnicamente, Mounjaro, mas não soa tão bem”, acrescentou o aspirante a trilionário.
Cenas assim têm se tornado mais frequentes desde que as canetas de GLP-1 — como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, que suprimem o apetite — entraram na rotina de quem deseja perder peso. No Reino Unido, 1,4 milhão de pessoas compraram esses medicamentos em farmácias privadas no período de um ano até abril, segundo a provedora de dados clínicos Iqvia, embora relatórios recentes apontem números ainda maiores. Nos Estados Unidos, 12% da população já recorreu a esse tipo de tratamento, de acordo com o grupo de pesquisa Rand.
Depois das festas, muitos se identificam com a sensação de aperto na cintura deixada pelas tortas natalinas. Há quem manipule o índice de massa corporal (IMC) em sites de farmácia online para se qualificar para a prescrição, ou faça microdosagem para eliminar apenas alguns quilos — comportamento que tem alimentado preocupações sobre efeitos colaterais, escassez e a formação de uma sociedade dividida entre os que têm acesso às injeções e os que não têm, agravada por recentes aumentos de preço. A revista Vogue traduziu esse Fomo em manchete: “Todo mundo está fazendo microdosagem de Ozempic secretamente — menos você?”.
No último ano, percebi um fenômeno profissional novo e surpreendente: a redução de tamanho das pessoas — e dos contatos. Chego a uma reunião, almoço ou entrevista e encontro um advogado ou acadêmico muito mais magro do que da última vez que nos vimos. Surge então um dilema de etiqueta: comentar ou silenciar? Há poucos anos, a resposta era simples — nenhum comentário ou um direto: “Você está bem”. O movimento de body positivity enfatizava “saúde em qualquer tamanho”, não magreza. Tanto que, em 2018, a empresa de dietas Weight Watchers se rebatizou como o enigmático “WW”, para remeter a “bem-estar”, mas acabou percebendo que havia diluído décadas de branding e voltou ao nome original.
Mas a cultura e a linguagem mudaram. A estética “skinny” voltou à moda — a ponto de a Advertising Standards Authority, órgão regulador do Reino Unido, ter se manifestado sobre campanhas que exibiam modelos excessivamente magras em varejistas como a Marks & Spencer. A magreza também ressurgiu na publicidade e, em 2018, a ASA chegou a avaliar anúncios mostrando modelos muito abaixo do peso, de varejistas como Marks & Spencer.
Há quem admita de imediato que está “na caneta” — outros apenas murmuram sobre uma nova rotina de treinos, ou nada dizem. Por ora, vou seguir destacando o “brilho saudável” dessas pessoas, uma forma segura de cobrir todas as bases sem escorregar no julgamento.
A chegada desses medicamentos também mexe com o já curto e sóbrio almoço de negócios. Restaurantes relatam ajustes no cardápio. Ver alguém apenas “brincar” com a comida pode tirar o apetite do outro lado da mesa, embora também encurte — às vezes com alívio — a interrupção do dia de trabalho causada pelo ritual do almoço.
Alguns empregadores esperam um impacto ainda mais estrutural. Nos EUA, 43% das grandes empresas (com 5 mil funcionários ou mais) já cobrem medicamentos GLP-1 em seus planos de saúde, contra 28% no ano anterior, segundo o instituto de pesquisa em saúde KFF. No Reino Unido, a seguradora Vitality tornou-se este ano a primeira a oferecer contribuição financeira para esses tratamentos. “Essas iniciativas não têm nada a ver com aparência, claro, mas com produtividade e redução de tempo perdido por doenças”, dizem as companhias.
O efeito-rede também pode estar acelerando a adoção nos círculos profissionais, observa André Spicer, dean da Bayes Business School: “Sabemos há algum tempo que, se sua rede é majoritariamente formada por pessoas com sobrepeso, suas chances de também ter sobrepeso aumentam. Estudos recentes sugerem que o mesmo vale para o uso de medicamentos de perda de peso: quanto mais pessoas na sua rede usam GLP-1, maior a probabilidade de você também se tornar um usuário”.
Num mercado de trabalho incerto, perder peso pode até ser racional. Um estudo apontou que 32% dos profissionais já testemunharam discriminação no trabalho relacionada ao peso corporal. Uma matéria recente cravou a manchete: “Ser atraente virou requisito do trabalho”. Com acesso facilitado a “tweakments” corporais, a pressão estética aumentou.
Isso tende a se intensificar em setores onde a imagem tem peso competitivo, diz Karyn Dossinger, professora assistente de gestão da Quinlan School of Business, da Loyola University Chicago: moda, varejo, publicidade e propaganda.
Mas isso também vem acompanhado de julgamentos, ela lembra — suposições sobre colegas ou líderes que ficaram subitamente mais magros. “Pode ser visto como uma atitude proativa e positiva. Mas também pode ser percebido como atalho, falta de disciplina ou de força de vontade”, diz a professora.
O Papai Noel original certamente não precisou ponderar nada disso.
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