
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que recebeu com “muita tristeza” a informação sobre a prisão definitiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e repetiu que planeja se candidatar à reeleição, rechaçando as especulações de que possa concorrer à Presidência da República em 2026 com o apoio do aliado.
“Eu tenho dito sempre que eu sou candidato à reeleição e tenho interesse de ficar em São Paulo. Sou perguntado com frequência e respondo a mesma coisa. E parece que as pessoas não acreditam, mas eu estou muito focado aqui no meu trabalho em São Paulo, no meu projeto de São Paulo, nos projetos de longo prazo”, disse Tarcísio a jornalistas, após um evento do governo paulista, na noite desta terça-feira (25).
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou nesta terça-feira trânsito em julgado da ação contra Bolsonaro e outros seis aliados do ex-presidente. O magistrado também determinou o início do cumprimento da pena. Bolsonaro seguirá preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde está desde sábado (22).
O governador declarou que “não está pensando” em eleição, justificou que ela “está muito longe” e lembrou que o ex-presidente se mantém como “a grande liderança da direita”. Segundo ele, “quem vai decidir a candidatura da direita é o Bolsonaro”, porque ele detém o capital político do segmento. Questionado se aceitaria uma indicação, o governador respondeu: “Não, eu não estou nesse bolo, eu estou focado em São Paulo”.
Tarcísio disse ainda que continuará empenhado nas articulações em prol de anistia e de prisão domiciliar para o ex-presidente. “O que eu puder fazer para que a anistia seja pautada e aprovada, eu vou fazer”, frisou ele, que é colega de partido do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
O governador defendeu que, embora deseje ver Bolsonaro livre, permitir que o ex-presidente cumpra a pena em casa é uma “questão humanitária”. Ele citou as consequências da facada e as crises de soluço como problemas que requerem cuidados permanentes e alimentação especial. “É uma questão de respeito a uma pessoa que tem 70 anos, que está muito doente.”
Ele também afirmou que pretende tentar visitar o ex-presidente — uma visita prevista para o próximo dia 10 foi cancelada por Moraes, após a decretação da prisão preventiva, no fim de semana. “O Bolsonaro é um grande amigo que eu tenho. E, nas horas de dificuldade, é que os amigos têm que estar juntos. Vou estar próximo dele, vou visitar tantas vezes quantas forem necessárias para prestar minha solidariedade e meu apoio”, comentou.
“Confio muito na inocência do presidente, trabalhei com ele. Sei da boa intenção, do bom propósito, [é] uma pessoa que sempre procurou fazer o melhor. Acho que tudo isso que está acontecendo é injusto e confio que o tempo vai esclarecer da verdade, que um dia isso vai ser esclarecido e que a gente vai ver o presidente solto novamente”, disse o governador.
Tarcísio também questionou a necessidade de Bolsonaro estar usando tornozeleira eletrônica na prisão domiciliar e usou o argumento de que ele já estava sob “vigilância 24 horas por dia” para descartar a possibilidade de uma tentativa de fuga. Segundo ele, é preciso “ter respeito aos ex-presidentes”.
Sobre a tentativa do ex-presidente de danificar o equipamento, ele respondeu que Bolsonaro estava com “soluços intermináveis”, perdeu a qualidade do sono e passou por uma “interação medicamentosa” que pode levar uma pessoa a ter “essas oscilações de consciência”.
“Como é que ele vai fugir de casa? Não vai fugir. Ele tem 70 anos, está doente, está fragilizado, tem vigilância na porta da casa dele. É lógico que não tem nada de fuga. Ele não precisava estar com a tornozeleira”, acrescentou. “De repente, se criou uma maneira de se antecipar algum movimento que para mim era totalmente desnecessário.”
Aliados apostam em candidatura presidencial
A notícia da prisão em definitivo do ex-presidente chegou pouco antes do início de uma solenidade no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para a entrega de 200 veículos a fundos sociais de prefeituras do interior. Segundo a gestão estadual, os carros poderão ser usados pelos órgãos municipais de assistência social para o transporte de cestas básicas, cobertores e roupas para famílias em situação de vulnerabilidade.
A cerimônia reuniu 21 deputados estaduais da base de Tarcísio, de partidos como Republicanos, PL, MDB e PSDB, além de secretários da gestão, prefeitos e primeiras-damas. Parte dos aliados, em conversas reservadas, afirmava que a candidatura presidencial de Tarcísio é um cenário cada vez mais provável, embora façam a avaliação de que nada deverá ser anunciado antes de fevereiro.
Um dos apoiadores de Tarcísio, ao ser questionado sobre a hipótese mais provável para o futuro do governador, respondeu fazendo um gesto com a mão inclinada para cima, para indicar que ele deve “subir” para a disputa nacional. Outros convidados reiteraram a expectativa de que isso ocorra e manifestaram apoio à votação do projeto de anistia, ainda que a aprovação da dosimetria seja considerada mais factível.
Nas palavras de uma das pessoas no evento, Tarcísio seria “o único capaz de vencer o Lula” no ano que vem, e uma chapa com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) na vice teria ainda mais chances contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Outros auxiliares, contudo, consideram que a presença de um membro do clã na candidatura atrairia mais rejeição do que apoio.
Há uma leitura, entre pessoas do entorno de Tarcísio ouvidas pelo Valor, de que apostar na vitória dele na eleição presidencial tornou-se uma das últimas alternativas da família Bolsonaro para tentar aliviar a situação do ex-presidente. Ele já se comprometeu a, caso eleito, conceder indulto ao padrinho político. Nos últimos dias, também se engajou na pressão sobre a Justiça em favor de uma prisão domiciliar para o ex-presidente.
A saída de Tarcísio da disputa pela reeleição tende a abrir uma briga pela cadeira de governador para 2026. Um dos nomes especulados para concorrer, o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), fez um discurso na cerimônia em tom elogioso ao governador, que voltou a descrever o Legislativo como um “sócio” do governo estadual.
O vice-governador Felicio Ramuth (PSD), que pode assumir o cargo após abril, caso Tarcísio renuncie para entrar na corrida ao Palácio do Planalto, estava no mesmo horário do evento em agendas no centro da capital paulista. Ramuth é visto por algumas alas da direita no Estado como um sucessor natural, mas o endosso do grupo de Tarcísio a ele ainda dependeria de costuras, a serem destravadas caso a renúncia do titular se torne uma possibilidade real.
O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), rejeitou nesta semana a possibilidade de concorrer. “Eu não vou ser candidato. Vou concluir meu mandato até 2028. Vou me empenhar na campanha do Tarcísio, seja para governador, que é o que ele tem colocado, seja para presidente”, disse Nunes na segunda-feira (24).
Especulações sobre vice
Um dos nomes cotados, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), desconversou nesta terça-feira (25) sobre os rumores de uma eventual composição para ser vice em uma candidatura presidencial de Tarcísio.
“Lancei a minha pré-candidatura à Presidência e vou levá-la até o final”, afirmou, em entrevista à rádio Jovem Pan. “Eu irei até o final como candidato”, reforçou Zema, dizendo que pesquisas vão ajudar a decidir, mais adiante, quem poderia ser seu vice — se alguém do Novo ou de um partido coligado.
“Quanto mais candidatos a direita tiver, mais ela se fortalece. E, indo para o segundo turno, todos estarão juntos. Temos uma safra de excelentes governadores no Brasil, o que comprova a competência da direita”, disse o governador. Um dia antes, Zema afirmou que a direita pode ter “dois, três ou até mesmo quatro” candidatos, mas que uma unificação é certa no segundo turno.
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