
Os investimentos em infraestrutura devem crescer em termos reais – descontada a inflação – por volta de 3% neste e no próximo ano, fechando 2025 em R$ 280 bilhões e em 2026 com um valor nominal próximo a R$ 300 bilhões. As projeções são da Associação Brasileira da Infraestrutura e das Indústrias de Base (Abdib).
Neste ano, 2025, os investimentos privados devem somar R$ 234,9 bilhões, com crescimento nominal de 10,75% em relação a 2024, enquanto os recursos públicos se limitam a R$ 45,1 bilhões, uma queda de 7% no ano.
“Vivemos um círculo virtuoso de investimentos, puxado por concessões ao setor privado e Parcerias Público-Privadas (PPPs)”, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Abdib. No balanço dos investimentos em 2025 e projeção para 2026, segundo Tadini, a disponibilidade de recursos do setor privado está em expansão nas atividades em que a regulamentação é percebida pelo mercado como adequada e os projetos de concessões e PPPs são bem estruturados – como nas concessões rodoviárias e no setor de saneamento. Por outro lado, os gastos escasseiam onde a regulamentação é considerada falha, como no setor de energia elétrica.
Em 2025, houve um aumento dos recursos para a área de saneamento, que cresceram, em termos nominais, 41,7%, para R$ 44,5 bilhões, sendo R$ 29,8 bilhões de origem privada. A expansão dos investimentos no setor é constante desde 2020, com a publicação do Novo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/20), que determinou a obrigatoriedade de universalização do acesso à água potável e a oferta dos serviços de coleta e tratamento de esgoto para 90% da população até 2033.
Desde então, 66 leilões de concessões de serviços de saneamento já foram realizados, promovendo investimentos que somam R$ 370 bilhões em 1.557 municípios, de acordo com o Instituto Trata Brasil.
O investimento em transportes e logística avançou 17,7%, para R$ 76,5 bilhões, em 2025, sendo R$ 53,6 bilhões em recursos privados. As concessões rodoviárias são as principais indutoras da expansão.
Apenas em 2023 e 2024, o Ministério dos Transportes realizou nove leilões de rodovias, que vão gerar R$ 108,3 bilhões em melhorias a serem realizadas em 30 anos. Em 2025 foram realizados oito leilões rodoviários, sem contar o leilão do Túnel Santos-Guarujá, realizado em parceria com o governo de São Paulo, que vai demandar investimentos de R$ 6,8 bilhões para sua implementação.
Os investimentos também fluem no setor portuário. Entre 2023 e o primeiro semestre de 2025, o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) realizou 22 leilões, que vão proporcionar R$ 12 bilhões em investimentos. Para dezembro está previsto o leilão do Terminal de Contêineres Santos 10, o Tecon 10, que prevê investimentos de R$ 6,4 bilhões. O governo federal, no entanto, ainda não viabilizou leilões de ferrovias greenfield (novos projetos) e hidrovias, o que atrasa o objetivo de promover um maior equilíbrio entre os modais de transportes no país.
Em 2025, os investimentos em telecomunicações estagnaram na casa de R$ 34 bilhões, após a implementação nos últimos anos da infraestrutura necessária para a operação da tecnologia móvel 5G.
Já os investimentos na infraestrutura de energia elétrica recuaram 3,4% em 2025, com um total investido de R$ 125,2 bilhões. “É uma atividade que sofre as consequências de uma regulamentação inadequada”, diz Tadini.
Nos últimos anos, houve um grande incentivo à expansão da oferta de energia renovável intermitente, principalmente na região Nordeste, e da microgeração distribuída, os painéis solares nos telhados de residências e galpões industriais, por exemplo. “Os incentivos à expansão da oferta não levaram em consideração a limitação da capacidade das redes de transmissão e distribuição de energia e tampouco o perfil do consumo, o que gerou um desequilíbrio entre oferta e demanda”, diz Tadini.

O excesso de oferta em determinadas horas do dia passou a ser penalizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) com a determinação do desligamento de usinas, o que gera prejuízos e desestimula o investidor. “Será preciso rever a regulação e o planejamento para o investimento voltar a crescer”, diz Tadini.
As perspectivas para o investimento privado em infraestrutura são positivas. De acordo com a Abdib, o país conta com um pipeline formado por 495 projetos com potencial de estimular R$ 750,5 bilhões de investimentos nos próximos anos. Transporte, mobilidade urbana e saneamento concentram as principais oportunidades.
Para 2026, por exemplo, o Ministério dos Transportes planeja efetivar três leilões ferroviários, segundo o secretário-executivo George Santoro: o Anel Ferroviário Sudeste (EF-118), conectando Espírito Santo e Rio de Janeiro; o corredor ferroviário Leste-Oeste, formado pela Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre Ilhéus (BA) e Figueirópolis (TO), onde se conectará à Ferrovia Norte Sul (FNS); e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), que parte da FNS em Mara Rosa (GO) e chega a Lucas do Rio Verde (MT). E também a Ferrogrão, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA).
No MPor um dos objetivos é iniciar a licitação de hidrovias em 2026, começando com a Hidrovia do Rio Paraguai (MT-MS), seguindo com os leilões das hidrovias do Madeira (RO-AM), Tocantins (TO-PA), Tapajós (PA), da Lagoa Mirim (RS) e a chamada Hidrovia Verde, de Manaus a Barra Norte, na foz do rio Amazonas.
Segundo Tadini, há disponibilidade de recursos para financiar os investimentos, tanto no mercado de capitais quanto no bancário. Neste ano, até setembro, a captação de recursos por meio de debêntures incentivadas em infraestrutura somou R$ 113,6 bilhões, com um crescimento de 18,2% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O ano passado foi o melhor da história até aqui, com a captação recorde de R$ 135 bilhões.
Já o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou R$ 18,2 bilhões para a infraestrutura no primeiro semestre de 2025. “São números que proporcionam otimismo em relação ao avanço da infraestrutura”, diz Tadini.

No entanto, todos esses avanços são de certa forma contidos pela histórica dificuldade de o governo achar espaço no orçamento para investir. Tadini considera que os investimentos em infraestrutura poderiam ser maiores se houvesse uma participação mais efetiva do setor público. Para ele, a participação pública é fundamental para viabilizar obras estruturantes de grande envergadura, como ferrovias interestaduais e redes urbanas de metrô. “O governo precisa equilibrar melhor os gastos públicos, rever benefícios fiscais e realizar ajustes administrativos para dispor de mais recursos para investir em obras estratégicas”, diz o executivo, que também reivindica o engajamento do Congresso Nacional nesse objetivo. “Disponibilizamos R$ 58 bilhões em 2025 para emendas parlamentares, recursos que são gastos de forma pulverizada, mas que poderiam ser direcionados a projetos enquadrados em um planejamento estrutural de longo prazo”, afirma Tadini.
O desafio de abrir espaço no orçamento para realizar investimentos é questão antiga, e ainda não se vislumbra sua superação. O próprio Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 prevê recursos de R$ 52,9 bilhões para o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É um recuo de R$ 7,6 bilhões em relação ao programado no orçamento de 2025.
A preocupação com a baixa capacidade de investimentos é compartilhada pela Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento e Orçamento (SOF/MPO). Em nota encaminhada a esta revista, a SOF admite que, para os orçamentos de 2027 em diante, “existem desafios com a compressão das despesas discricionárias em patamar relevante e necessidade de adoção de medidas e ações de incremento de receita líquida, bem como revisão de gastos com despesas obrigatórias e alocações rígidas, visando garantir um espaço fiscal adequado para a implementação de políticas públicas e a continuidade dos investimentos”.
A questão é relevante porque, apesar da expansão dos investimentos que está em curso, o país precisará dobrar o esforço para eliminar gargalos e reduzir seu déficit em infraestrutura. Estudo realizado pela Inter.B Consultoria estima que o estoque de capital empregado em infraestrutura no país deverá fechar 2025 em R$ 4,46 trilhões, o que representará 35,2% do Produto Interno Bruto (PIB). É um volume baixo se comparado com países de desenvolvimento médio, como o Brasil. O padrão internacional considerado como adequado é de um estoque de capital em infraestrutura equivalente a 63,7% do PIB.
Para alcançar esse patamar em um prazo de 20 anos, o país terá que realizar investimentos anuais em infraestrutura na casa de 4,65% do PIB até 2045. Se a meta for eliminar o déficit em dez anos, os investimentos terão que ser ainda maiores, na média de 5,95% do PIB por ano até 2035. “Estamos distantes deste patamar”, diz o consultor Claudio Frischtak. A projeção da Inter.B é de um investimento em infraestrutura de R$ 277,9 bilhões em 2025, o que representa 2,19% do PIB.
Um problema adicional é que parcela significativa do investimento realizado nos últimos anos no Brasil não é direcionada a projetos greenfield, mas para a recuperação de ativos desatualizados. Em 2024, 61,7% dos investimentos em infraestrutura tiveram este objetivo. “Isso ajuda a explicar a dificuldade do país em ampliar sua infraestrutura”, diz Frischtak.
Para o consultor, além de expandir o investimento em novas estruturas, o Brasil também precisa investir bem, com a escolha de projetos de boa qualidade, que sejam comprovadamente relevantes e sustentáveis, reúnam condições de obter financiamentos e licenciamentos e capacidade executiva para manter o necessário fluxo financeiro e de materiais durante a execução da obra. São muitos os exemplos de capital empoçado em obras mal planejadas. O Tribunal de Contas da União (TCU) contabiliza 11.469 obras paralisadas no país.
“No Brasil, cada governo quer deixar sua marca e os projetos são constantemente descontinuados”, diz Paulo Resende, especialista em logística da Fundação Dom Cabral (FDC).
Para Resende, a infraestrutura demanda planejamento de Estado, não de governo. “Hoje prevalecem as obras que geram retorno político imediato”, afirma. O adequado, em sua opinião, é um planejamento macro de longo prazo desenvolvido com base em dados sobre a evolução das demandas da sociedade.
Resende coordena uma pesquisa de origem e destino encomendada pelo Ministério dos Transportes para a elaboração do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050. A ideia é mapear a evolução do transporte de cargas no país nos próximos 25 anos para auxiliar na definição dos projetos logísticos prioritários para o país. Para isso, foram entrevistados mais de 300 embarcadores, os donos das cargas, e associações setoriais, além de 60 transportadores dos diferentes modais de transportes.
“Um planejamento de Estado para a infraestrutura não impede que cada governo invista em obras que considere prioritárias, mas garante que os investimentos sejam coordenados e atendam a um objetivo comum de acordo com uma visão de longo prazo do país”, diz Resende.
A falta de uma infraestrutura qualificada penaliza as empresas e os cidadãos. Segundo estudo do Movimento Brasil Competitivo, a infraestrutura inadequada eleva o custo operacional entre R$ 250 bilhões e R$ 290 bilhões por ano no Brasil em relação aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Fato que compromete a produtividade das empresas brasileiras e dificulta a atração de investimentos produtivos para o país.
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