
Integrantes da base governista na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS vêm barrando a convocação de nomes considerados peças-chave no escândalo de fraudes em aposentadorias, entre eles Edson Claro Medeiros Júnior e Gustavo Marques Gaspar — apontados pela Polícia Federal como figuras centrais na engrenagem financeira do esquema supostamente operado por Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também está entre os nomes que a oposição quer chamar para depor. Sua convocação deve ser votada na próxima quinta-feira (16) e o governo tenta mobilizar parlamentares para impedir a iniciativa da oposição.
Em outras votações, a base governista já conseguiu impedir convocações-chave. Uma delas foi a de um ex-funcionário direto do “Careca do INSS”, Edson Claro Medeiros Júnior. Ele foi citado em relatórios da PF como testemunha crucial das movimentações de dinheiro vivo entre operadores do esquema de Brasília.
Segundo uma fonte da PF que pediu para não ter o nome revelado por tratar de assunto sensível, Medeiros Júnior teria relatado que o “Careca” transportava malas de dinheiro semanalmente para pagamento de propina e tentava vender bens de luxo para evitar apreensões judiciais. Em depoimento prestado à Polícia Federal, ele também afirmou ter sofrido ameaças de morte do ex-patrão após denunciar a suposta tentativa de ocultação dos valores.
A Gazeta do Povo procurou a defesa de Medeiros Júnior mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem.
O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), defendeu a convocação de Edson Claro Medeiros Júnior alegando que ele estaria disposto a falar e apresentar documentos, mas estaria sendo silenciado por “forças ocultas” interessadas em impedir seu depoimento. Ainda assim, a maioria governista votou contra o pedido. O requerimento foi rejeitado por 16 votos a 14, na última quinta-feira (2).
Sobre a resistência, o governo tem argumentado que o depoimento de Medeiros Júnior não tem relação com o que está sendo investigado pela CPMI. O deputado Rogério Correia (PT-MG), afirmou que a relação entre Medeiros Júnior e Antunes seria uma “briga pessoal”.
Já o Paulo Pimenta (PT-RS), coordenador da bancada governista na CPMI, afirmou que não cabe à CPMI mediar disputas pessoais. “Aqui não é delegacia de polícia nem palco para espetáculo midiático. Não vamos transformar a CPMI em espaço de disputa pessoal ou de vídeos para internet”, disse o deputado gaúcho.
No mesmo dia, o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) afirmou que irá apresentar outro requerimento pedindo uma oitiva de Medeiros Júnior. Ele também protocolou um requerimento pedindo informações à delegada Milena Sapienza, da Polícia Civil de São Paulo, sobre as ameaças de Antunes contra Medeiros Júnior.
Na segunda-feira (6), o deputado Alfredo Gaspar afirmou que irá conversar pessoalmente com Edson Claro Medeiros Júnior e levar informações para o colegiado. “Eu irei procurá-lo como relator da Comissão para saber o que ele tem a falar, se é ou não interessante diante do risco de vida”, afirmou o deputado alagoano.
Ex-assessor de senador também escapou de convocação
Situação semelhante ocorreu com Gustavo Marques Gaspar, empresário e ex-assessor parlamentar do senador Weverton Rocha (PDT-MA). Gaspar é dono da empresa GM Gestão Ltda. e, segundo a PF, concedeu procuração bancária ampla a Rubens Oliveira Costa, operador financeiro identificado como o “homem da mala” do “Careca do INSS”.
O documento autorizava abertura, movimentação e encerramento de contas, além de transferências e assinatura de contratos, o que, na prática, deu a Costa acesso direto a recursos suspeitos de lavagem de dinheiro.
Durante a reunião da CPMI em setembro de 2025, a oposição argumentou que o depoimento de Gaspar era indispensável para rastrear a origem e o destino dos valores desviados de beneficiários do INSS.
O relator, Alfredo Gaspar, afirmou que sua oitiva seria essencial para “entender o fluxo financeiro das fraudes”. Mesmo assim, o requerimento foi barrado pela base governista, que alegou falta de elementos concretos e classificou o caso como “disputa política”. O placar foi novamente apertado, com 15 votos contrários e 13 favoráveis à convocação.
Em nota enviada à imprensa, o senador Weverton Rocha afirmou que a nomeação de Gaspar teve “caráter estritamente político” e que “não mantém qualquer relação profissional com Gustavo Gaspar”.
O advogado Bernardo Simões Coelho, responsável pela defesa de Rubens Oliveira, negou qualquer envolvimento de seu em pagamentos de propina em nota enviada ao Metrópoles. A defesa informou também que Oliveira atua no setor de consultoria empresarial e prestou serviços, por tempo limitado, a Gustavo Gaspar, com quem teve apenas vínculo profissional.
Já Gustavo Gaspar declarou que contratou Rubens Oliveira apenas para cuidar de questões burocráticas e fiscais da GM Gestão Ltda., e negou que Oliveira tenha feito saques ou movimentações nas contas da empresa.
“Nunca houve nenhum tipo de saque ou movimentação de valores pelo Sr. Rubens nas contas da empresa GM Gestão Ltda […] Nunca houve recebimento de qualquer vantagem indevida de Rubens Oliveira, Antonio Carlos Camilo Antunes ou de qualquer outra pessoa”, disse Gaspar ao Metrópoles.
Governo vota contra quebra de sigilo de ex-assessor de Alcolumbre
Nesta quinta-feira (9) a base do governo também conseguiu evitar a quebra de sigilo de Paulo Augusto de Araújo Boudens, ex-assessor do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O pedido teve 17 votos contrários e 13 favoráveis.
Segundo a revista Veja, Boudens teria recebido R$ 3 milhões da empresa Arpar Participações, apontada pela Polícia Federal como uma das envolvidas em lavagem de dinheiro e pagamento de propina.
A reportagem procurou a defesa de Boudens e a assessoria de Alcolumbre para comentar o caso, mas não obteve resposta.
Entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024, a Arpar movimentou R$ 98 milhões. Cerca de R$ 50 milhões teriam vindo de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, considerado um dos principais articuladores das fraudes. Para a PF, a Arpar atuava como uma “empresa de passagem”, já que os recursos recebidos eram rapidamente transferidos para terceiros.
Em depoimento à CPI, Antunes explicou que o dinheiro se referia à compra de títulos de dívida da empresa, pelos quais recebia juros.
Embora não haja clareza sobre os motivos dos repasses entre a Arpar e Boudens, parlamentares da oposição entenderam que a relação entre o advogado e a empresa justificava o requerimento de quebra de sigilo.
Depoimento de familiares do “Careca do INSS” expôs o cerco e provocou reviravolta na CPMI
A estratégia de blindar investigados começou a ruir após a convocação de familiares de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, considerado o principal articulador do esquema de fraudes e descontos indevidos em aposentadorias.
A CPMI havia inicialmente aprovado a ida de Tânia Carvalho dos Santos, esposa de Antunes, e do filho, Romeu Carvalho Antunes, para explicar as movimentações financeiras e o aumento repentino do patrimônio da família — o que acabou forçando o próprio “Careca” a comparecer à comissão em 25 de setembro.
De acordo com relatórios da Polícia Federal, Tânia e Romeu aparecem como sócios em várias empresas ligadas ao esquema, com movimentações superiores a R$ 50 milhões e negociações de imóveis de luxo usados para ocultação de bens.
Entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, o casal chegou a negociar o mesmo imóvel por R$ 353 milhões em operações sucessivas, levantando suspeitas de lavagem de dinheiro.
A Gazeta do Povo procurou a defesa de Antunes para esclarecimentos, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
Convocação de Frei Chico será votada na próxima semana
A eventual convocação de José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão do presidente Lula e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), pode ocorrer na próxima semana.
Nesta quinta-feira (9) a oposição apresentou na CPMI um documento da Controladoria-Geral da União (CGU) que mostra que o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) omitiu do INSS a presença de Frei Chico em seu quadro diretivo para ter renovado em 2023 um acordo de cooperação técnica. Legalmente, o laço de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, com o presidente Lula deveria impedir o sindicato de celebrar parcerias com a administração pública.
Até então, um acordo político entre governo e parlamentares independentes restringiu, nesta fase, as oitivas aos presidentes das entidades investigadas, o que deixou Frei Chico fora da lista inicial de convocados. O cenário mudou com a apresentação da apuração da CGU.
O Sindnapi é uma das principais organizações sob apuração da PF e da CPMI, suspeita de ter recebido repasses milionários da União e aplicado descontos indevidos em aposentadorias.
Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) indicam que o sindicato movimentou cerca de R$ 150 milhões em 2024, parte proveniente de convênios com o INSS e associações intermediárias. Embora Frei Chico não figure formalmente como investigado, sua posição na vice-presidência e o histórico de influência sindical tornaram seu nome um dos mais sensíveis politicamente no radar da comissão.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), negou a existência de um pacto de blindagem e afirmou que sua convocação será votada. “Eu entendo que é urgente que coloquemos em votação a convocação do chamado Frei Chico, irmão do presidente Lula. Para que ele possa esclarecer os pontos que foram colocados e possa esclarecer qual é sua participação, especialmente nas decisão que foram tomadas”, afirmou o senador.
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