
Neste domingo (26), a Argentina realiza suas eleições legislativas de meio de mandato presidencial, e o atual presidente do país, Javier Milei, precisa que seu partido, A Liberdade Avança (LLA, na sigla em espanhol), tenha resultados expressivos para que sua pauta de reformas não seja travada no Congresso.
Estarão em disputa 127 das 257 cadeiras na Câmara dos Deputados e 24 dos 72 assentos no Senado. Hoje, o LLA tem apenas 44 cadeiras na Câmara e seis no Senado, o que o obriga a contar com votos de outros partidos, como o Proposta Republicana (PRO), do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), e tais legendas não são 100% fiéis às pautas de Milei.
Dessa forma, o presidente tem sofrido derrotas no Legislativo que, afirma ele, ameaçam suas metas de “déficit zero”.
Recentemente, o Congresso argentino derrubou vetos que o presidente havia imposto a uma lei que obriga o Estado a aumentar o financiamento das universidades públicas do país e a outra que declara estado de emergência na saúde pediátrica e determina a alocação de mais verbas para o setor.
Também aprovou uma lei para limitar o poder de Milei de emitir decretos, ao estabelecer um prazo de 90 dias para o Legislativo ratificar essas medidas (caso contrário, tornam-se nulas) e que elas podem ser derrubadas com rejeição em apenas uma das casas do Congresso (a legislação atual exige a rejeição de ambas). Essa proposta de mudança retornou ao Senado, que já a havia aprovado parcialmente.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Flavio Gonzalez, advogado e professor da Universidade de Buenos Aires, disse que, levando-se em conta o número de cadeiras em disputa neste domingo, o LLA “não conseguirá maioria parlamentar mesmo que tenha um resultado favorável”.
Porém, uma vitória daria fôlego político a Milei para “neutralizar o poder da oposição de derrubar os vetos presidenciais, o que não conseguiu fazer até agora”, disse o analista – para que um veto seja derrubado, são necessários pelo menos dois terços dos votos dos parlamentares.
Com vitória ou derrota neste domingo, o presidente precisará negociar, afirmou Gonzalez.
“Se ele não construir alianças no Congresso, por exemplo, com os governadores [na Argentina, os governantes provinciais têm grande influência no Congresso nacional] que estão mais ao centro no espectro político, será muito difícil para o presidente aprovar uma agenda”, disse o especialista, que também destacou a necessidade de “buscar acordos com membros da oposição [no Parlamento] que estão mais ao centro, o que é chamado de oposição dialogante”.
Trump, um grande “cabo eleitoral” de Milei
O presidente americano, Donald Trump, é aliado de Milei e se tornou nas últimas semanas uma espécie de cabo eleitoral do LLA para as eleições de meio de mandato.
Os Estados Unidos estão comprando diretamente pesos argentinos e fecharam um acordo de swap cambial de US$ 20 bilhões com o Banco Central da Argentina para frear a alta do dólar.
O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, disse que a gestão Trump também busca uma linha de crédito de US$ 20 bilhões que complementaria a linha de swap, “com bancos privados e fundos soberanos que, acredito, ficariam mais focados no mercado de dívida”.
No último dia 14, Milei foi recebido na Casa Branca por Trump, que sugeriu que a ajuda poderia ser interrompida se Milei sofresse derrotas eleitorais.
“Não vamos deixar alguém assumir o cargo e desperdiçar o dinheiro dos contribuintes deste país. Não vou deixar isso acontecer”, disse Trump. “Se ele [Milei] perder, não seremos generosos com a Argentina.”
Trump parecia fazer referência à eleição presidencial de 2027, quando Milei tentará a reeleição, mas horas depois manifestou apoio ao presidente argentino nas eleições legislativas de meio de mandato.
“Espero que o povo argentino entenda o excelente trabalho que ele está fazendo e apoie seu trabalho durante as próximas eleições de meio de mandato, para que possamos continuar a ajudá-lo a atingir o incrível potencial da Argentina. Javier Milei tem meu apoio total e completo — ele não vai decepcionar vocês”, escreveu Trump na rede Truth Social.
Para Flavio Gonzalez, a situação mostra que “não há relações entre Estados, entre a Argentina e os Estados Unidos”.
“O que existe são relações entre governos, entre o governo de Milei e o governo de Trump. E, bem, isso obviamente torna instável qualquer relação. Porque se uma relação entre países está sujeita a um resultado eleitoral, isso obviamente gera instabilidade na relação”, disse o analista.
Gonzalez afirmou que, em caso de derrota do LLA neste domingo, poderá haver impactos “no fluxo de dinheiro que Trump vem colocando para conter a alta do dólar no mercado cambial argentino”.
“Mas, apesar disso, ele também não poderá ir ao outro extremo, de não levar em conta os problemas financeiros da Argentina, porque, caso contrário, a Argentina ficaria na mão da China, e isso é algo que os Estados Unidos não podem permitir”, destacou o analista.
“Há questões geopolíticas que transcendem a relação Milei-Trump, que têm a ver com a ordem multipolar ou bipolar no plano internacional, a competição entre os Estados Unidos e a China, que, apesar do que Trump diga, também o obriga a não negligenciar sua relação com a Argentina, assim como não deve negligenciá-la com nenhum país da América do Sul ou com nenhum país do mundo. E o mesmo com a China”, ponderou.
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