
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu derrotado da COP 30 de Belém que terminou neste sábado (22) com a divulgação de um documento final quase implodido por duas das principais propostas que o governo queria impor aos países participantes: metas para o fim dos combustíveis fósseis e o roteiro para zerar o desmatamento. Além da dificuldade de chegar a um consenso, o último dia da conferência também foi marcado por discussões acaloradas.
Mesmo articulando pessoalmente a inclusão dos chamados “mapas do caminho”, o presidente não conseguiu vencer a resistência de países árabes, China e Índia, que barraram qualquer avanço sobre o tema. As sugestões do governo brasileiro contavam com o apoio inicial de 20 países, incluindo Colômbia, Reino Unido, França, Suécia e Ilhas Marshall.
No entanto, mesmo com Lula pressionando pessoalmente, o documento final da COP 30 sequer menciona a proposta sobre combustíveis fósseis, apesar de ser considerado por especialistas como responsável por mais de 80% das emissões globais. O presidente minimizou a derrota e se disse “muito satisfeito com o sucesso” do evento.
“Quando nós introduzimos a discussão sobre o Mapa do Caminho [para o fim do uso de combustíveis fósseis], sabíamos que era um tema polêmico. O que conseguimos foi começar um debate sobre uma coisa que todo mundo sabe que vai ter que acontecer”, afirmou o presidente neste domingo (23) a jornalistas em Joanesburgo, na África do Sul, onde participou nos últimos dias da cúpula do G20.
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Lula emendou na crítica afirmando que o Brasil já está fazendo a sua parte na redução do uso de combustíveis fósseis com a adição de 15% de biodiesel no óleo diesel e 30% de etanol na gasolina.
“Outros países podem fazer isso. Por exemplo, o continente africano, que precisa se desenvolver e gerar emprego, pode ser grande produtor dessa matéria-prima para exportar aos países que não têm onde plantar, como a União Europeia. Então o que colocamos é o seguinte: é possível”, completou.
Mesmo com o fracasso das negociações formais, o presidente brasileiro da COP 30, André Corrêa do Lago, anunciou que o governo criará paralelamente dois mapas do caminho por conta própria para reverter o desmatamento e para a transição energética.
“Precisamos de mapas para que possamos ultrapassar a dependência dos fósseis de forma ordenada e justa”, afirmou na véspera sem detalhar como as iniciativas serão implementadas.
A derrota política ocorre após a volta emergencial de Lula a Belém, onde tentou “destravar” acordos ao reunir-se com líderes e ministros estrangeiros. A proposta brasileira sobre combustíveis fósseis nem sequer estava prevista originalmente para a COP 30, mas o presidente decidiu insistir no tema, afirmando que “o mundo precisa de um mapa do caminho claro para acabar com essa dependência dos combustíveis fósseis”, segundo afirmou na abertura da conferência.
A expectativa dos aliados era que o chamado “Pacote Político de Belém” incluísse o roteiro proposto por Lula, o que não aconteceu. Com isso, o Brasil deixa a conferência sem o avanço concreto que o governo esperava apresentar ao mundo, enquanto a disputa global sobre combustíveis fósseis continua sendo o ponto mais sensível das negociações climáticas.
Além dos combustíveis fósseis e do desmatamento, o texto final da COP 30 trouxe um avanço tímido no financiamento das medidas de adaptação climática, acordando o encaminhamento de recursos três vezes maior até 2035, mas sem expressar valores e nem exatamente qual será o papel dos países participantes.
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A derrota brasileira nas duas propostas também foi acompanhada de um bate-boca entre os países participantes e Corrêa do Lago, acusado de pouca transparência no estabelecimento de metas e diretrizes do documento final. Países latino-americanos, entre eles a Colômbia e o Panamá, contestaram a condução do processo e alegaram ter sido ignorados quando pediram a palavra.
A delegada colombiana Daniela Durán González, por exemplo, disse haver “um sério problema de procedimento” e declarou que sua objeção ao relatório não foi tratada como tal, o que poderia paralisar a aprovação. “A Colômbia está muito preocupada […] o senhor está nos deixando sem opção a não ser rejeitar o item de mitigação”, afirmou.
Nas redes sociais, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, reclamou que o comunicado da COP 30 não menciona com clareza “que a causa da crise climática são os combustíveis fósseis”. Já a Rússia saiu em defesa de Corrêa do Lago e acusou os latino-americanos de agir “como crianças que querem suas mãos em todos os doces”.
A Argentina respondeu em nome do bloco dos países latinos descontentes, afirmando que “não estamos nos comportando como crianças mimadas”. “Estamos aqui para representar nossos países. Viemos aqui para representar os milhões de habitantes desse continente que representamos”, completou.
O embaixador brasileiro reconheceu falhas técnico-operacionais na sessão afirmando não ter percebido pedidos de fala das delegações, e ainda culpou sua “idade avançada” e a dificuldade para dormir nos últimos dias por causa das negociações.
“Eu profundamente lamento que não tive conhecimento do pedido das partes para falar. Como muitos de vocês aqui, não dormi e provavelmente isso não ajudou. Assim como minha idade avançada”, disse.
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