
Uma análise dos resultados das últimas cinco edições do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) — a próxima começa amanhã (9) e termina no domingo (16) para 4,8 milhões de brasileiros — mostra que o teste apresenta um nível similar de distribuição dos candidatos pelas faixas de desempenho, mas não consegue evitar uma variação significativa de um ano para o outro no número de candidatos que conseguem as maiores notas. Apesar desse grupo ser formado pela menor parcela dos participantes, são eles que disputam as vagas mais valiosas, como as de Medicina, nas universidades federais.
O debate sobre a possibilidade de uma comparação entre provas diferentes ganhou força após o anúncio de que o Sistema de Seleção Unificado ( Sisu) vai aceitar, a partir de 2026, as notas das três últimas edições do Enem. A medida gerou reação de alunos que estão completando o ensino médio e só poderão competir por uma vaga na universidade com um resultado obtido, contra outros candidatos que terão até três para escolher sua melhor média.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a forma com que o Enem é corrigido — através da teoria de resposta ao item (TRI) — faz com que seja possível utilizar notas de diferentes provas porque elas podem ser comparadas. “Com base em parâmetros definidos, a comparabilidade entre as edições do mesmo ano e de anos diferentes é determinada pelos vários pré-testes a nível nacional”, diz o texto.
Um levantamento feito pelo Globo com base nas últimas cinco edições mostra, no entanto, que algumas provas resultaram em menos pessoas atingindo os maiores patamares de desempenho — o que pode indicar edições mais difíceis do que outras. Em Matemática, por exemplo, 0,2% dos candidatos tiraram nota maior do que 900 em 2023 e só metade disso (0,1%) atingiu o mesmo patamar apenas dois anos antes.
“Em termos percentuais pode parecer pouco, mas estamos falando de alta concorrência para Medicina, em que qualquer detalhe faz a diferença. Em 2024, houve mais de cinco mil candidatos pontuando acima de 900 pontos em Matemática. Em 2021, esse número caiu para pouco mais de dois mil. Isso impactou diretamente na nota de corte da UnB, por exemplo, na qual a Matemática tem peso quatro para Medicina”, diz Frederico Torres, estatístico, mestre em Matemática pela UnB e fundador do curso “Mente Matemática”, que acompanha as notas do Enem.
Com a mudança, o Sisu de 2026, que será realizado em janeiro, vai aceitar as notas do Enem 2025, 2024 e 2023. Porém, a edição de 2024 produziu menos candidatos no topo do desempenho em quatro (Matemática, Ciências da Natureza, Linguagens e Redação) das cinco provas do Enem quando se compara com o exame anterior, de 2023.
Os casos mais discrepantes se deram em Ciências da Natureza e em Linguagens. O exame de 2024 resultou em 40% menos candidatos no topo do desempenho do que o de 2023 nessas duas provas. Em Ciências da Natureza, 0,7% dos candidatos conseguiram mais de 700 pontos em 2024, e 1,18% ultrapassaram essa marca em 2023. Já na prova de Linguagens, foram, respectivamente, 0,16% e 0,27% os inscritos que atingiram esse mesmo patamar de desempenho.
Em Matemática, o resultado foi o que mais se aproximou um do outro (foram 0,17% e 0,2%, respectivamente). Só em Humanas é que mais pessoas conseguiram os maiores patamares de desempenho em 2023 do que em 2024. Num ano, 1,18% passaram dos 700 pontos. No outro, 1,45%.
Em Redação, essa diferença foi de 9,7%, em 2023, e 10,6%, em 2024. Essa é a única prova que não é corrigida com o modelo da TRI, já que não é de múltipla escolha. De acordo com o Inep, ela “mantêm sua comparabilidade assegurada pela metodologia isonômica de correção, que avalia, em todas as edições, as mesmas competências da Matriz de Referência, independentemente do tema proposto”.
A análise do GLOBO mostra que, apesar de cerca de 10% dos candidatos atingirem notas maiores do que 900 em 2023 e 2024, esse patamar é de apenas 6,8%, em 2020, e 7,1%, em 2021.
O estatístico Thiago Valentim, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, concorda com a avaliação do MEC e opina que o exame do conjunto total dos candidatos aponta um padrão de desempenho que é similar todos os anos.
“Fiquei praticamente emocionado com o resultado da análise das notas. Os candidatos têm notas similares ano a ano do ponto de vista estatístico. Então há de fato uma possibilidade de comparação, que é a grande vantagem da TRI, entre as edições”, diz Valentim, autor de artigos sobre a teoria de resposta ao item.
A TRI funciona com um conjunto de modelos matemáticos que considera o grau de dificuldade das perguntas e o padrão de acertos e erros do aluno para dar as notas. Cada uma das 180 questões do Enem é classificada como fácil, médio ou difícil. Isso é baseado no número de pessoas que acertaram cada uma delas.
Na hora de calcular o resultado dos alunos, o algoritmo também leva em conta a consistência das respostas. Se um estudante acerta uma questão difícil, é esperado que ele também acerte as mais fáceis. Já se ele acerta uma pergunta difícil, mas erra as mais fáceis, é possível concluir que o candidato chutou a questão, diminuindo a nota.
Outro objetivo da TRI, que foi adotada pelo Enem desde 2009, é justamente fazer com que uma prova possa ser comparada com a outra, além de diferenciar as notas dos 4,8 milhões de inscritos de forma com que haja o menor número de empates possíveis, já que elas servem para selecionar alunos para o ensino superior.
“Dois candidatos que acertam o mesmo número de questões só tiram a mesma nota se eles acertam os exatos mesmos itens”, diz Raquel Valle, do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, que defende ser possível comparar uma prova com a outra por causa desse modelo de correção. “Tudo na TRI foi pensado para eliminar o fator dificuldade de uma prova para a outra. Todo mundo que conseguir 800 pontos no Enem, independentemente da edição que fizer, estará no mesmo ponto da escala de proficiência.”
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