
Com um discurso antecipado de despedida, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, inaugurou na noite desta quinta-feira (27) a fase final da transição do BC independente, que, em janeiro, passará a contar apenas com membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando muitos participantes do mercado aguardam com ansiedade quem deverá substituí-lo nessa posição-chave, que faz toda a preparação técnica para as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), ele passou uma mensagem otimista.
“Os avanços institucionais, tais como a autonomia, e avanços no arcabouço monetário, como a meta contínua, levarão a uma menor relevância da figura individual do membro do Copom”, afirmou, no 4º Seminário MacroLab de Conjuntura da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“O processo se torna tão robusto que vontades e preferências individuais vão perdendo importância, o que é extremamente positivo”, disse o diretor do BC. Oficialmente, seu mandato vai até 31 de dezembro, e ele permanece no cargo para participar da reunião do Copom de dezembro e para divulgar o Relatório de Política Monetária.
Guillen abriu sua fala com a agenda do BC na área de estatísticas, que, no seu mandato, extrapolou a enfadonha compilação de dados, em meio a pelo menos duas batalhas vitais para garantir a integridade das informações abertas ao público.
“Um momento marcante foi quando se propôs uma regra orçamentária para o tratamento da apropriação dos saldos antigos de PIS/Pasep como receita primária para funding de investimentos”, disse ele. Na prática, isso faria parecer o resultado fiscal melhor do que realmente é.
Na época, lembrou, o Departamento de Estatística manteve a sua interpretação, em uma nota técnica, amparada pelos manuais internacionais de estatísticas fiscais. A outra briga foi convencer o Supremo Tribunal Federal (STF) a não tirar das estatísticas do resultado primário parte das despesas com pagamento de precatórios.
Meta contínua de inflação
O período de Guillen também foi marcado pela adoção da meta contínua de inflação de 3% – segundo ele, usando estudos profundos que já haviam sido desenvolvidos por antecessores no cargo e pela equipe técnica, ao longo de anos.
“Gostaria de enfatizar não a decisão, mas a capacidade e maturidade técnica do Banco Central para oferecer subsídios à decisão”, disse. “Assim, quando o debate se colocou, o Banco Central tinha uma opinião já amadurecida sobre cada uma das diversas opções que poderiam ser colocadas em prática.”
Não fez parte do discurso, mas Guillen foi um dos que fizeram a defesa vocal da manutenção da meta de inflação em 3% em junho de 2023, quando o governo Lula chegou a sugerir a sua elevação ao Conselho Monetário Nacional (CMN).
Na área de pesquisas, destacou, chegaram a 635 os trabalhos para discussão publicados, e houve melhoras na governança para selecionar e escolher os tópicos para estudos feitos em conjunto com acadêmicos de fora do BC. Também criou um programa de estágio de pós-graduação e iniciou um projeto-piloto para abertura de microdados anônimos para análise de pesquisadores externos.
Reuniões com analistas de mercado
Guillen introduziou maior disciplina às reuniões com analistas de mercado, que sempre foram um ponto de controvérsia – historicamente, muitos reclamavam que alguns tinham mais acesso a esses encontros que outros.
“Reformulamos as reuniões com economistas, reduzindo as reuniões bilaterais e aumentando a frequência das reuniões trimestrais com grupos menores de economistas”, afirmou, no discurso.
Sobre a elaboração de comunicados e atas do Copom, ele fez uma revelação: o BC já utiliza ferramentas de processamento analítico de texto, uma forma de inteligência artificial (IA) aplicada à análise e organização da linguagem.
“O tema da comunicação sempre levanta paixões e assim continuará sendo, agora com modelos LLM entrando no debate”, disse, referindo-se aos modelos de inteligência artificial generativa, como chatbots. “Já introduzimos instrumental de processamento analítico de texto na construção da comunicação e seguiremos fazendo isso, sem nos esquivarmos das nossas escolhas e da certeza de que há um elemento humano na produção e na compreensão do texto.”
📢 Belford Roxo 24h – Aqui a informação nunca para
📞 WhatsApp da Redação: (21) 97915-5787
🔗 Canal no WhatsApp: Entrar no canal
🌐 Mais notícias: belfordroxo24h.com



