
A Casa do Seguro, espaço da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) na COP30, em Belém, recebeu, nesta sexta-feira (14), especialistas em mais um dia de painéis voltados para o enfrentamento de desafios climáticos. O cantor Afonso Cappelo abriu a manhã cantando sucessos da música paraense e clássicos da música brasileira para os convidados.
Debater o papel do seguro na agenda climática global — com foco no desenvolvimento de produtos que viabilizem investimentos em resiliência climática, além de ações concretas de adaptação e mitigação dos impactos ambientais — foi o objetivo do evento Diálogos COP30: Seguros, Clima e Natureza. A iniciativa, realizada pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS), abordou ao longo dia temas como seguros para soluções baseadas na natureza.
Neste quinto dia de programação, o espaço também recebeu a Caixa Seguridade, que conduziu três painéis sobre temas centrais, incluindo a importância dos fundos de previdência complementar aberta para o financiamento climático e os riscos e oportunidades relacionados a seguros, capitalização, consórcios e assistências.
A iniciativa conta com o apoio de Allianz, AXA, BB Seguros, Bradesco Seguros, Caixa Seguridade, MAPFRE, Marsh McLennan, Porto, Prudential e Tokio Marine.
Hub de Inteligência Climática
Depois de registrar R$ 184 bilhões em prejuízos entre 2022 e 2024 devido a 67 eventos climáticos significativos, o Brasil enfrentou, apenas no primeiro semestre deste ano, outros 10 incidentes, com impacto adicional de R$ 31 bilhões. Os dados são do Radar de Eventos Climáticos e de Seguros no Brasil, estudo inédito lançado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), em parceria com a Ernst & Young. O levantamento mostra que somente 9% das perdas estavam seguradas.
O Radar compõe o primeiro módulo do Hub de Inteligência Climática da CNseg, como explicou o presidente da entidade, Dyogo Oliveira: “O Hub é uma plataforma que lançamos na COP30 com duas ferramentas iniciais: a Solução de Riscos Climáticos para Inundação e a Solução de Conformidade Socioambiental para o Seguro Rural”.
O Radar de Eventos Climáticos e de Seguros no Brasil mostra que, embora chuvas extremas e inundações sejam mais frequentes, as secas são as que geram os maiores danos financeiros. Por afetarem áreas extensas e por longos períodos, o impacto é especialmente severo para o agronegócio.
“Até junho, o agro já acumulava R$ 30,4 bilhões em perdas. E isso em um setor que, no ano passado, tinha apenas 6% de cobertura de seguro rural. Neste ano, a tendência é cair para menos de 3%”, informou Dyogo Oliveira.
O estudo, que será atualizado anualmente, também evidencia desigualdades regionais na capacidade de enfrentamento. Enquanto o Sul concentrou as maiores perdas econômicas, Norte e Nordeste registraram os menores níveis de proteção, com menos de 2% das perdas seguradas.
Confira o que mais rolou no quinto dia de evento:
Painel 1 – Adesões Institucionais PSI e CEBDS

Quando todas as camadas da população têm acesso a produtos de seguro, o setor cumpre uma missão social relevante, como destacou, na abertura da programação do dia, Gustavo Portela, diretor-presidente da Caixa Seguridade. “Somos agentes de um pacto civilizatório, capazes de transformar a sociedade com ações de diversidade, equidade e inclusão social. Nosso capital humano e intelectual está engajado em transformar sonhos em realidade. Temos orgulho de intermediar o acesso a produtos que cabem no bolso dos brasileiros.”
Portela lembrou que o setor segurador acompanha de perto a agenda climática, da qual o Brasil participa ativamente. “O país lidera esta agenda desde, pelo menos, 1992. As seguradoras apoiam esse movimento com produtos que impulsionam iniciativas de proteção ambiental e mitigação das mudanças climáticas.”
Compromissos pela sustentabilidade

Na Casa do Seguro, no turno da manhã, a Caixa Seguridade formalizou sua associação ao Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), na presença de Viviane Romeiro, diretora de clima, energia e finanças sustentáveis da instituição: “Um dos principais objetivos da COP30 é colocar as pessoas no centro. E os seguros são cruciais neste sentido, principalmente quando o setor se posiciona para oferecer não apenas reparo, mas também prevenção, uma postura importante para o momento de transformação sistêmica pelo qual estamos passando”.
Também presente, Butch Bacani, head de seguros do United Nations Environment Programme, acompanhou a adesão da Caixa Seguridade aos Princípios para a Sustentabilidade em Seguros (PSI). “Um dos nossos principais objetivos é colocar os seguros a serviço de reforçar a resiliência do Sul global aos incidentes climáticos.”
Painel 2 – Fundos de Previdência Complementar Aberta e Financiamento Climático

Os fundos de previdência aberta no Brasil possuem entre 10,5% e 12,5% de investimentos alinhados a ativos sustentáveis e com viés climático. E esses fundos apresentaram desempenho financeiro superior em relação aos demais. Essa é a principal conclusão do estudo “Fundos de previdência aberta e financiamento climático”, apresentado na Casa do Seguro por Annelise Vendramini, pesquisadora da FGV EAESP e coautora do trabalho.
“A alocação ainda é incipiente e limitada por restrições estruturais do mercado brasileiro, o que mostra um amplo espaço de crescimento para fundos com foco ESG. Para isso, é preciso melhorar a divulgação dessas opções, que ainda não chegam com clareza aos investidores”, afirmou Vendramini.
Financiamento que vem dos fundos
Um dos principais temas da COP30 é a mobilização de pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035. Para Maria Netto Schneider, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), esse volume não virá dos bancos: “Temos a tendência de focar essa discussão no sistema bancário, quando, na verdade, esses trilhões virão principalmente do mercado de capitais. O financiamento tende a vir dos fundos, especialmente os de longo prazo. O debate é como destravar o acesso a esses investimentos”.
Jean-Christophe Hamery, CEO da Caixa Vida e Previdência, acrescentou: “A alocação nesses fundos é uma decisão dos investidores. Com incentivos fiscais, como os já aplicados, por exemplo, aos carros elétricos, poderíamos tornar esses produtos mais atrativos e ampliar seu acesso”.
Painel 3 – Riscos e Oportunidades Relativas às Mudanças Climáticas em Seguros, Capitalização, Consórcio e Assistências

As mudanças climáticas trazem riscos — e também oportunidades — diferentes para cada vertical do setor de seguros. No último painel realizado pela Caixa Seguridade na Casa do Seguro, Raphael Fonseca Niemeyer e Mariana Saragoça, sócios da Stocche Forbes Advogados, apresentaram um mapeamento detalhado desses impactos por área.
“As seguradoras tendem a ganhar eficiência ao mapear riscos e oportunidades por vertical de atuação”, afirmou Niemeyer. Nos seguros residenciais, os incidentes costumam ser altamente prejudiciais e concentrados geograficamente. “É um produto com forte caráter de inclusão social”, destacou Saragoça.
Rodrigo Valença, CEO da Caixa Residencial, lembrou um caso recente: “As enchentes no Rio Grande do Sul deixaram lições importantes. Estamos incluindo danos por água no seguro residencial, sem aumentar o valor da apólice”.
Cada área da Caixa Seguridade adota estratégias próprias de proteção e prevenção diante dos riscos climáticos. Segundo Jean-Christophe Hamery, CEO da Caixa Vida e Previdência, o foco é fortalecer as comunidades locais. “Focamos na proteção ambiental e na inclusão social”, afirmou. Nelma Tavares, CEO da Caixa Capitalização, destacou campanhas de arrecadação de alimentos, medicamentos e cobertores, além de ações de educação financeira com atenção especial às comunidades quilombolas.
Elerson Leris, CEO da Caixa Consórcio, acrescentou: “Já facilitamos o acesso a veículos elétricos e híbridos. E, para bens duráveis, orientamos os clientes sobre possíveis riscos geográficos antes da compra”. Arlindo Garrote, CEO da Caixa Assistência, reforçou: “Temos atuado para ampliar ações preventivas”.
Painel 1 – Reflexo do clima no setor de seguros
O avanço na frequência e na intensidade de eventos climáticos extremos tem desafiado o setor de seguros e exigido novas abordagens no planejamento estratégico. Esse foi o foco do painel conduzido por Goret Pereira Paulo, diretora da rede de pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Precisamos da mitigação de riscos proporcionada pelos seguros, com apoio do setor privado e da ciência”, afirmou.
Jean Pierre Ometto, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), explicou a missão da plataforma AdaptaBrasil, criada a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para fornecer análises em tempo real sobre riscos climáticos. “Queremos chegar ao nível de prever incidentes por localidade. Para isso, atuamos em proximidade com o setor de seguros, que trabalha com modelos preditivos sofisticados.”
Em outubro, um modelo analítico preciso ajudou a Jamaica a acelerar a recomposição das cadeias de suprimentos após a passagem do furacão Melissa. Para Pedro Farme D’Amoed, CEO da Guy Carpenter Brasil, o caso evidencia a importância de desenvolver ferramentas de predição. “A existência de dados tornou possível levar o atendimento às regiões afetadas com grande agilidade.”
Com informações confiáveis e produtos personalizados para cada setor e região, o mercado segurador pode ampliar significativamente suas contribuições, apontou Pedro Werneck, gerente de sustentabilidade da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). “Trabalhamos para conectar os dados sobre clima aos padrões de atuação do setor”, afirmou.
Esse esforço é coletivo, reforçou Eduarda La Rocque, diretora de controles internos, riscos e conformidade do IRB(RE): “A palavra-chave é integração”.
Painel 2 – Seguros para Soluções Baseadas na Natureza (SbN)
Quando uma nova área da economia começa a se desenvolver, ela precisa de proteção — e isso inclui as soluções baseadas na natureza. Para Claudia Prates, diretora de sustentabilidade da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e moderadora do painel sobre o tema, o setor já está preparado para apoiar esse avanço. “É da natureza das seguradoras oferecer instrumentos para um setor novo, como o de soluções baseadas na natureza. É possível aplicar a expertise já desenvolvida em outras áreas, como o agro, e impulsionar esta atividade tão importante para o Brasil cumprir a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030”, afirmou.
O impacto tende a ser especialmente relevante para a redução de emissões no país, reforçou Prates: “Uma parte expressiva das emissões brasileiras vem do uso da terra. Por isso, é importante consolidar evidências e apoiar a biodiversidade”.
O setor segurador historicamente utilizava séries passadas para avaliar riscos e projetar tendências. Esse cenário mudou, como observou Rodrigo Curi, superintendente-executivo técnico da Brasilseg. “Os dados disponíveis precisam ser refinados, porque o contexto mudou e os padrões não vão mais se repetir. Precisamos coordenar melhor e usar novos formatos.”
Butch Bacani, head de seguros do United Nations Environment Programme, concordou: “Adaptação e mitigação são dois lados da mesma moeda, e ambos exigem uma nova abordagem sobre dados”.
Esse desafio também atinge o mercado de soluções baseadas na natureza, apontou Isabella Modelli, especialista em sustentabilidade da MAPFRE. “O seguro florestal comercial existe, mas tem foco econômico. Já o seguro para florestas não comerciais requer outra lógica, e não é suficiente olhar para o passado.”
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