
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares da direita realizam, nesta terça-feira (7), uma caminhada na Esplanada dos Ministérios em defesa da anistia aos presos do 8 de janeiro de 2023. A mobilização teve como foco pressionar o Congresso Nacional diante da articulação para transformar o projeto encampado pela oposição em uma dosimetria das penas dos condenados por tentativa de golpe de Estado.
O senador Flávio Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o pastor Silas Malafaia participam do ato. Outros membros da oposição na caminhada são Nikolas Ferreira, Bia Kicis, Filipe Barros, Magno Malta, Alberto Fraga, Eros Biondini, Rodolfo Nogueira e Domingos Sávio.
Veja fotos da caminhada pela anistia em Brasília
“Dosimetria é conversa fiada para boi dormir. Nós não somos bois. Dosimetria não é papel do Congresso. Papel do Congresso é conceder anistia”, disse o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do ato em Brasília. Segundo o próprio Malafaia, a caminhada é uma resposta às manifestações organizadas pela esquerda no final de setembro, que contaram com a mobilização de diversos artistas para atrair o público.
“Nós não podemos deixar a esquerda com a última palavra naquela palhaçada de artista de misturar temas, certo? Para enganar o povo. Então, no mínimo, vamos fazer uma caminhada”, afirmou Malafaia.
A oposição tem se posicionado contra a estratégia do relator da anistia, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), de transformar o projeto em apenas uma revisão das penas dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Além da resistência do PL, que detém a maior bancada da Câmara, com 88 deputados, a federação formada por PT, PCdoB e PV, com 80 parlamentares, também já sinalizou que votará contra qualquer relatório apresentado.
Diante do impasse, Paulinho da Força adiou a apresentação do seu parecer, e não há perspectiva de o projeto entrar na pauta de votações desta semana. Apesar disso, a oposição espera que a caminhada em Brasília sirva como forma de pressionar o Congresso Nacional.
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Flávio Bolsonaro diz que “não vai baixar a cabeça”
O senador Flávio Bolsonaro discursou no início da caminhada e disse aos manifestantes que falava em nome do ex-presidente Jair Bolsonaro. A mensagem era para que os apoiadores da direita “não baixassem a cabeça”.
“E é essa a mensagem que o presidente Bolsonaro vai passar para cada um de vocês — e que eu posso falar em nome dele, sim. Assim como ele não baixou a cabeça, nós também não vamos baixar a nossa. Cada vez que eu vou lá, por mais cansado que eu esteja, eu volto animado. Saio de lá convicto, cheio de energia, para continuar lutando por esse Brasil, por cada um de vocês, pelos nossos filhos e pelas próximas gerações.
Porque a gente tem a convicção de que, se esse país continuar nas mãos dessa quadrilha, o Brasil acaba de vez — e a gente não vai admitir isso. A gente não vai tolerar o Brasil cair no precipício para só depois acordar. Cada um de vocês está fazendo parte da história. Vocês são, além de testemunhas, atores ativos de uma luta incansável. E é com essa força que a gente vai conseguir aprovar a anistia naquele prédio logo ali à frente. Vamos caminhar juntos, para que o Congresso ouça a nossa voz”, disse Flávio Bolsonaro.
Já o senador Magno Malta reforçou que a luta da direita é pela aprovação da anistia e que não irá aceitar a dosimetria.
“Estamos aqui numa caminhada que foi pensada. Não foi uma conclamação nacional — foi uma caminhada para dizermos aos dois Poderes, à Câmara e ao Senado, e aos abutres que querem Jair Bolsonaro fora do processo político: o tempo de Deus para com Bolsonaro ainda não acabou. Nós não queremos dosimetria, porque dosimetria é coisa do Judiciário.
Anistia é coisa do Legislativo. Quem precisa de anistia é Alexandre de Moraes — se ele quiser, que peça, porque quem cometeu crime tem de responder; nós estamos aqui para apoiar quem nunca cometeu crime”, afirmou Malta.
O senador Rogério Marinho, líder da Oposição no Senado, criticou o ato da esquerda contra a anistia, em setembro, e afirmou que a direita não precisa de artistas famosos em seus atos.
“Quando nos reunimos, nós não precisamos de artistas famosos, nós não precisamos da Lei Rouanet. Nós não precisamos enganar ninguém, nós não precisamos de narrativas, mas precisamos apenas um senso de justiça”, disse Marinho.
O deputado Nikolas Ferreira também ressaltou o poder de mobilização da direita. “Nós estamos fazendo tudo o que eles não queriam que fizéssemos: continuar. Estamos aqui, milhares de pessoas, e não teve um dia em que eu não me lembrasse de vocês. Essa luta não começou hoje. Desde a CPMI [do 8 de janeiro], há seis meses, estamos enfrentando diversos ministros, enfrentando um e outro, mas seguimos firmes. Estamos aqui para dizer ao Brasil que podem marcar manifestação em qualquer dia da semana — que nós estaremos aqui”.
“Meu marido continua preso, com seus direitos violados”, diz Michelle Bolsonaro
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também falou à multidão durante a caminhada e ressaltou a violação de direitos ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ela também criticou a intenção de parte do Congresso de aprovar a dosimetria das penas no lugar da anistia aos condenados do 8 de janeiro de 2023.
“O meu marido continua preso, com seus direitos violados — direitos que estão na Constituição Federal e que não estão sendo respeitados por aqueles que dizem defendê-la. […] E agora vem com esse papo de dosimetria? Não! Dosimetria não é constitucional. Dosimetria não vai apagar o passado dessas pessoas. Dosimetria não vai tirar a mancha, a dor e o drama desses homens e mulheres que estão presos. A anistia geral, ampla e irrestrita vai pacificar o Brasil. Vai trazer a paz à nossa nação e amenizar o sofrimento de tantas famílias”, afirmou Michelle Bolsonaro.
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Formato da caminhada foi debatido entre líderes da oposição
Segundo líderes do PL, a opção pelo formato de uma caminhada em dia de semana — e não de uma manifestação no domingo — se deu porque havia pouco tempo para articular um novo protesto de grande porte. A última manifestação organizada pela direita ocorreu no 7 de Setembro e contou com a mobilização de milhares de apoiadores de Bolsonaro em todo o país.
“Manifestação, você tem que ter 50, 70, 80, 100 mil pessoas. Já uma caminhada, se tiver 10 mil pessoas, a esquerda não bota 2 mil pessoas em caminhada em Brasília há muito tempo”, defendeu Malafaia.
Em maio, a direita realizou a primeira caminhada em defesa da anistia na capital federal. Na ocasião, o ex-presidente Bolsonaro participou e discursou para seus apoiadores. “O Brasil nasceu com vocação para a liberdade. O que estamos vivendo no momento é muito triste e doloroso, mas não vamos perder a esperança”, afirmou.
Desta vez, o ato não contou com a presença do ex-presidente, que está em prisão domiciliar desde o começo de agosto por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Segundo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a caminhada desta vez teve o objetivo de dar visibilidade a pessoas que estão “presas, afastadas de suas famílias, com suas liberdades limitadas e suas vozes censuradas”.
“O que estamos vendo hoje é a voz das ruas pedindo o fim das injustiças. O Brasil quer paz e respeito ao devido processo legal. A anistia é o caminho para restaurar a confiança nas instituições e virar a página desse momento de divisão”, defendeu Ubiratan Sanderson (PL-RS), vice-líder da oposição na Câmara.
Na mesma linha, o deputado Rodrigo Valadares (União-SE) defendeu que a caminhada é um “marco de união nacional”. “A caminhada pela anistia mostra que o povo está cansado de perseguições. É hora de pacificar o país, garantir o perdão e permitir que o Brasil volte a olhar para o futuro. O Parlamento precisa ouvir o clamor das ruas”, disse.
Apesar da mobilização, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou na semana passada que é necessário “mais tempo” para discutir o projeto da anistia antes de levá-lo ao plenário. “Não tenho uma temperatura precisa de como tem sido a conversa do relator, até porque ele não conversou ainda com todos os partidos. Eu preciso de um pouco mais de tempo para poder entender qual é o sentimento da Casa e decidir sobre pautar ou não o projeto”, disse Motta.
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