
Ainda que os ruídos domésticos tenham aumentado nos últimos dias, o mercado de câmbio tem mantido uma dinâmica positiva. E a expectativa de bancos estrangeiros e locais é que o bom desempenho do real siga em vigor ao menos até o fim deste ano. Diversas instituições financeiras passaram a adotar em seus cenários uma visão mais benigna em relação à trajetória esperada para a taxa de câmbio, em uma aposta sustentada, grosso modo, pela continuidade do cenário externo de fraqueza da moeda americana.
Ao longo da última semana, o dólar se manteve entre R$ 5,30 e R$ 5,35 e, assim, teve um desempenho bem mais contido do que os outros mercados domésticos. Nos juros, houve forte pressão sobre as taxas futuras diante de uma maior preocupação fiscal, o que se refletiu, também, em uma desvalorização do Ibovespa na semana. No câmbio, porém, o bom humor externo impediu uma desvalorização do real. No ano, o dólar acumula uma desvalorização de 13,5% frente à moeda brasileira e, assim, o real se mantém entre as divisas de melhor desempenho.
Chama atenção, em particular, o fato de alguns bancos estrangeiros adotarem uma postura mais otimista em relação à taxa de câmbio no fim deste ano. Como mostrou recentemente o Valor, a partir de entrevista com a XP, os investidores não residentes têm optado, preferencialmente, pelo “cavalo” do câmbio para apostar no Brasil, enquanto os agentes locais têm preferido, sobretudo, os juros nominais. Essa sensação já havia sido notada em julho pelo Barclays, após conversas com clientes locais e estrangeiros.
“Com juros reais extremamente elevados — graças a um Banco Central ainda cauteloso e a uma taxa básica de juros de 15% —, vemos mais riscos de valorização do real do que de desvalorização”, diz o chefe de estratégia de câmbio para América Latina do HSBC, Joseph Incalcaterra. No início da semana passada, o banco reduziu sua projeção para o dólar de R$ 5,50 para R$ 5,40 no fim deste ano e manteve a expectativa de uma moeda americana a R$ 5,00 em 2026.
Incalcaterra nota que, mais recentemente, as tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos parecem diminuir e que os dois países “finalmente começam a retomar o diálogo”. Com isso, na visão do estrategista, o foco dos mercados deve se voltar à política doméstica no Brasil, com atenção especial às pesquisas eleitorais de 2026. “Vemos riscos adicionais para o real caso a taxa de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumente”, diz.
A possibilidade de melhora na aprovação do governo, especialmente após a aprovação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) na Câmara dos Deputados de forma unânime, foi um ponto que provocou uma piora na percepção de risco nos mercados na semana que passou. O câmbio, porém, seguiu bem comportado e com volatilidade reduzida, em um possível sinal de que o nível elevado do diferencial de juros (“carry”) continua a beneficiar o real.
E, na visão da estrategista Andrea Kiguel, do Barclays, com o ambiente externo favorável para emergentes e a manutenção de uma postura cautelosa pelo Banco Central, “o ‘carry’ continuará especialmente atrativo na medida em que o Federal Reserve avançar no ciclo de cortes de juros”. A profissional observa que a sazonalidade do câmbio tende a ser desfavorável no fim do ano, diante dos fluxos de saída de dólares por remessas de lucros e dividendos, mas enfatiza que o efeito costuma ser mais suave em anos de dólar fraco e “carry” elevado.
“Por isso, seguimos otimistas com o real até o fim do ano”, diz a estrategista. O Barclays, inclusive, projeta o dólar a R$ 5,20 no fim deste ano e vê espaço para a valorização do câmbio doméstico ter continuidade no início do próximo ano, com a moeda americana a R$ 5,15 no primeiro trimestre de 2026. Além disso, o banco mantém posição comprada em real (aposta na valorização da moeda brasileira) em uma cesta de moedas com “carry” elevado.
Com o diferencial de juros na mira, os estrategistas Ezequiel Aguirre e Christian Gonzalez Rojas, do Bank of America, abriram posição comprada em real contra o peso mexicano na semana que passou. “Embora tanto o real quanto o peso mexicano apresentem ‘carry’ elevado e valorização superior a 10% no acumulado do ano, estamos mais construtivos com o real: está mais barato que o peso e oferece um diferencial de juros maior”, dizem. Nesse sentido, o BofA abriu posição com o real a 3,45 pesos, com a expectativa de que a moeda brasileira chegue a 3,80 pesos.
Entre as justificativas, os profissionais apontam que o real está 20% mais barato que o peso mexicano. “O desconto reflete a posição externa mais fraca do Brasil e seus níveis mais altos de dívida, mas também abre espaço para um desempenho superior caso a credibilidade da política econômica e as perspectivas de crescimento melhorem”, avaliam Aguirre e Gonzalez Rojas.
“O Brasil oferece potencial de valorização no médio prazo, já que um novo governo pode trazer disciplina fiscal, reformas estruturais e políticas pró-crescimento, melhorando o sentimento dos investidores e apoiando o real. Em contraste, o México só realizará sua próxima eleição presidencial em 2030, o que limita o surgimento de catalisadores políticos no curto prazo”, enfatizam os estrategistas, que também apontam para uma postura mais conservadora do Banco Central do Brasil, enquanto o Banco do México tem adotado sinais mais “dovish” (favoráveis a juros mais baixos).
Outros bancos estrangeiros também têm mantido um viés mais otimista com o real. O Goldman Sachs projeta o dólar a R$ 5,20 no fim do ano e tem recomendação para a compra da moeda brasileira, enquanto o Société Générale também estima a moeda americana a R$ 5,20 no fim do ano e mantém, na carteira, a compra de real em uma cesta junto a outras moedas da América Latina com o dólar na ponta vendida.
Vale notar que alguns bancos locais também têm adotado um viés mais otimista em relação ao real. Na sexta-feira, a equipe de economistas do Bradesco, liderada por Fernando Honorato Barbosa, reduziu sua projeção para o dólar no fim do ano de R$ 5,50 para R$ 5,25.
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“Desde o início do ano, o investimento direto no país não tem sido suficiente para cobrir o déficit nas transações correntes, deixando o real mais suscetível aos fluxos voláteis de investimento em carteira. Ainda assim, projetamos leve apreciação da moeda até o fim de 2025, sustentada principalmente pela fraqueza global do dólar — tendência que não deve se reverter no próximo ano”, dizem os profissionais do banco. Na visão do Bradesco, isso deve fazer o real se aproximar dos valores de fundamento estimados pelo banco.
O Santander manteve uma visão mais cautelosa, mas também passou a adotar uma trajetória mais benigna para o real em seu cenário-base, ao revisar o dólar no fim do ano de R$ 5,70 para R$ 5,60. “Historicamente, os fluxos cambiais tendem a se deteriorar no fim do ano, com remessas de dividendos ao exterior e maior demanda sazonal por dólares. Com a atividade doméstica perdendo fôlego e os riscos fiscais voltando ao radar, esperamos que os ganhos recentes do real percam força”, diz a equipe de economistas liderada pela ex-secretária do Tesouro Ana Paula Vescovi.
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Para o banco, o movimento de apreciação do câmbio observado neste ano reflete um “carry” atrativo e a menor aversão global a risco, mas há ventos contrários estruturais. Os economistas citam como exemplo o fluxo cambial acumulado no ano, que está negativo em US$ 16,2 bilhões, diante de saídas financeiras robustas e de um superávit comercial decepcionante, por ter sido pressionado tanto por preços mais baixos de commodities quanto por importações firmes.
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