
A Eli Lilly foi solicitada a produzir mais insulina; a Pfizer, a produzir mais de seu medicamento oncológico mais vendido, o Ibrance, de seu remédio para colesterol Lipitor; e a AstraZeneca, sediada em Londres, a considerar uma nova sede nos EUA, de acordo com duas fontes. Executivos farmacêuticos estão recebendo ligações quase diárias de funcionários da Casa Branca — incluindo a chefe de gabinete, Susie Wiles — e de figuras sêniores de agências como Saúde e Serviços Humanos e o Departamento de Comércio, disseram duas fontes familiarizadas com o assunto.
Mas as farmacêuticas são apenas a ponta do iceberg. O governo Trump está buscando acordos em até 30 setores, envolvendo dezenas de empresas consideradas críticas para a segurança nacional ou econômica, segundo mais de meia dúzia de pessoas a par das negociações. Em alguns casos, a administração está oferecendo alívio tarifário em troca de concessões, garantias de receita ou participação acionária em empresas com dificuldades, entre outros tipos de ajuda.
A negociação acelerada tem como objetivo entregar vitórias políticas ao presidente dos EUA, Donald Trump, antes das eleições de meio de mandato de 2026, disseram as fontes. Na terça-feira (30), Trump anunciou um acordo com o diretor-presidente da Pfizer, Albert Bourla, para reduzir os preços de medicamentos em troca de alívio de tarifas planejadas sobre produtos farmacêuticos importados.
“Os Estados Unidos pararam de subsidiar os sistemas de saúde do resto do mundo”, disse Trump, num evento no Salão Oval.
Tão importante quanto os acordos em si é a visibilidade — eles precisam ser anunciados a partir da Casa Branca, disseram duas fontes. A Eli Lilly aprendeu isso da forma difícil quando excluiu Trump do anúncio de duas novas fábricas em setembro e recebeu uma ligação do governo perguntando por que não permitiram que o presidente anunciasse ele próprio.
Um porta-voz da Eli Lilly disse que não tinha conhecimento da interação com o governo e afirmou: “como empresa americana, a Lilly está comprometida em expandir a capacidade de fabricação nos EUA”.
Pfizer e AstraZeneca se recusaram a comentar. A Casa Branca também não comentou o anúncio da Eli Lilly nem os detalhes específicos dos planos do governo.
Tudo faz parte do que o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, descreveu como uma abordagem de “todo o governo” para negociar acordos “a fim de proteger nossa segurança nacional e econômica.”
O plano é usar os amplos poderes do governo para pressionar empresas a avançarem no objetivo de Trump de transferir manufatura para os EUA, reduzir a dependência da China, fortalecer cadeias de suprimentos de produtos críticos e contribuir para os cofres públicos, segundo seis pessoas familiarizadas com as discussões.
O alcance do governo abrange setores diversos, incluindo semicondutores, IA, computação quântica, minerais críticos, construção naval, energia, produção de baterias, farmacêuticos e transporte, disseram as fontes. A extensão completa dos planos ainda não havia sido relatada.
Tomados em conjunto, os planos de intervenção na economia americana representam uma reversão de décadas de abordagem liberal em relação às empresas privadas, uma característica definidora do capitalismo americano.
“É impressionante que um governo republicano esteja nos afastando mais do capitalismo tradicional do que qualquer outro governo democrata”, disse John Coffee, professor de direito societário na Universidade Columbia, em Nova York.
Financiamento de US$ 250 bilhões
O governo Trump está mirando uma agência federal pouco conhecida, de desenvolvimento financeiro, a International Development Finance Corporation (DFC), para desempenhar papel central na supervisão e financiamento do plano, disseram duas pessoas. Criada no primeiro mandato de Trump com o Ato Build de 2018, a agência foi concebida para oferecer financiamento de baixo custo a projetos de alimentação, saúde e outros em países em desenvolvimento.
Mas uma proposta enviada pela agência ao Congresso em junho expandiria significativamente seus poderes e alcance. O projeto de lei mais do que quadruplicaria sua capacidade de financiamento, de US$ 60 bilhões para US$ 250 bilhões, além de criar um fundo de participações acionárias destinado a fortalecer setores-chave, incluindo infraestrutura, energia, minerais críticos e raros e cadeias de suprimentos — praticamente qualquer coisa “nos interesses econômicos e de segurança nacional dos Estados Unidos”, segundo uma cópia do plano revisada pela Reuters.
A agência ainda aguarda a aprovação do orçamento pelo Congresso e a confirmação de Ben Black, filho do cofundador da Apollo Global Management, Leon Black, para comandá-la. Um porta-voz de Black disse que ele não poderia comentar assuntos da DFC antes de sua confirmação no Senado.
Um funcionário da DFC se recusou a comentar acordos específicos, mas disse que seu mandato é “mobilizar investimento do setor privado em projetos que avancem os interesses econômicos e de política externa dos EUA, incluindo projetos que reduzam a dependência de minerais e materiais controlados pela China”.
US$ 550 bilhões do Japão
O governo também planeja usar os US$ 550 bilhões do Japão — prometidos aos EUA como parte de um acordo comercial — para criar um novo acelerador de investimento, gerido pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse um funcionário americano à Reuters. O Japão tem até o fim do mandato de Trump para fornecer os recursos.
Tanto o acelerador de investimento do Departamento de Comércio quanto a DFC devem substituir um fundo soberano originalmente planejado por Trump, mas já descartado, disseram três fontes.
Agências federais se tornam negociadoras
No Departamento de Saúde e Serviços Humanos, a busca por acordos está sendo liderada por Chris Klomp, ex-investidor de saúde do Vale do Silício, e John Brooks, ex-consultor de políticas de saúde, com Wiles atuando nos maiores acordos farmacêuticos.
Lutnick, ex-operador de títulos que se tornou presidente da Cantor Fitzgerald, é o principal negociador do governo. Ele supervisionou os maiores acordos, incluindo a aquisição de 10% de participação na Intel e a “golden share” recebida pelo Departamento de Comércio como parte da compra da U.S. Steel pela japonesa Nippon Steel por US$ 14,9 bilhões em junho.
Lutnick se recusou a comentar, mas tem defendido vigorosamente que os EUA assumam participações em empresas. “Se vamos te dar o dinheiro, queremos uma parte do negócio”, disse Lutnick à CNBC em agosto.
Ele recrutou dois veteranos de Wall Street — o banqueiro de tecnologia Michael Grimes, vindo do Morgan Stanley, e o advogado de fusões e aquisições David Shapiro, ex-sócio da Wachtell, Lipton, Rosen & Katz — para liderar alguns acordos, disseram duas pessoas.
O J.P. Morgan, que ajudou no acordo com a mineradora MP Materials, disse em podcast que montou uma força-tarefa de banqueiros comerciais, lobistas e banqueiros de investimento para lidar com os inúmeros contatos de clientes desde que o acordo foi anunciado. “Já tivemos pelo menos 100 ligações com clientes para falar sobre a transação da MP e o que isso significa para outros setores”, disse Andrew Castaldo, co-chefe de fusões e aquisições “mid-cap” do J.P. Morgan.
Shapiro e Grimes não comentaram. Lutnick planeja contratar mais negociadores sêniores de Wall Street nas próximas semanas para o acelerador de investimento, disse o funcionário americano.
Na Casa Branca, o recém-nomeado czar de cadeias de suprimentos, David Copley, vem conduzindo muitas negociações, enquanto o vice-secretário de Defesa, Steve Feinberg, lidera conversas com contratadas de defesa, disseram duas fontes.
“Precisamos de 10% da sua empresa”
Algumas empresas recebem bem a abordagem, vendo chance de acessar recursos federais. Outras encaram as negociações com receio. Um executivo do setor de minerais críticos disse que colegas temem ouvir em reunião: “Precisamos de 10% da sua empresa”.
Há também preocupação de que decisões sejam tomadas com base em políticas que podem mudar em três anos. “A preocupação número um é que isso pode ser de curta duração”, disse Y. David Scharf, advogado da Morrison Cohen. “E se houver uma reversão de 180 graus no próximo governo?”
Críticos dizem que tal intervenção no setor privado poderia minar o livre mercado e colocar o governo na posição de escolher vencedores e perdedores.
“É contraditório que defensores do livre-mercado agora apoiem o mesmo modelo estatal que costumavam criticar”, disse Aldo Musacchio, especialista em capitalismo de Estado.
Para a administração, porém, as participações acionárias não são reversões ideológicas, mas ferramentas pragmáticas para reduzir riscos em setores estratégicos, garantir retorno ao contribuinte e restaurar empregos industriais nos EUA, disseram três fontes.
Apple, Intel e Lithium Americas
Embora cada negociação tenha suas particularidades, o acordo com a MP Materials é visto como um modelo inicial, disseram quatro pessoas. Nele, o Pentágono assumiu 15% de participação via a Lei de Produção de Defesa, fixou um preço mínimo para compras futuras de minerais críticos e obteve da Apple um contrato de US$ 500 milhões para compra de ímãs reciclados.
No caso da Intel, o governo transformou uma subvenção do Ato de Chips em uma fatia de 10% via o Departamento de Comércio.
Já com a Lithium Americas, o Departamento de Energia, por meio de Greg Beard, buscou uma fatia acionária de 5% a 10% em troca de um empréstimo de US$ 2,26 bilhões aprovado em 2021. A empresa terá a maior fonte de lítio do Hemisfério Ocidental quando sua mina Thacker Pass, em Nevada, abrir em 2028.
Em reunião na Casa Branca em 24 de julho, assessores de Trump, Peter Navarro e Copley, disseram a executivos de grandes tecnológicas e de minerais que a administração estava lançando uma estratégia “estilo pandemia” para reforçar o fornecimento de minerais críticos após a China suspender exportações de ímãs e materiais essenciais.
Mark Jensen, diretor-presidente da refinadora ReElement Technologies, estava presente: “Eles querem ver projetos que sejam viáveis e com parcerias sólidas”.
📢 Belford Roxo 24h – Aqui a informação nunca para
📞 WhatsApp da Redação: (21) 97915-5787
🔗 Canal no WhatsApp: Entrar no canal
🌐 Mais notícias: belfordroxo24h.com