Empresas estão enfrentando um problema crescente: funcionários pedindo adiantamentos de salários, empréstimos ou até acordos de demissão para sacar o FGTS, devido ao vício em apostas e jogos eletrônicos. Segundo Rafael Tenório, empresário com 42 anos de experiência, o impacto tem sido percebido em diversas empresas do grupo.
“Descobrimos pela família e pelo próprio funcionário que ele estava envolvido com apostas e jogos eletrônicos”, afirma Tenório, ressaltando que a situação é inédita em sua carreira.
Tenório compartilhou um episódio onde deu R$ 20 em créditos para um funcionário apostar no “jogo do tigrinho”. “Ele perdeu tudo em 1 minuto e 15 segundos na minha frente”, conta.
Após a divulgação do problema, outros empresários também relataram preocupações semelhantes. Um deles, proprietário de uma fazenda, informou que até o caseiro, morando em um local isolado, estava endividado devido aos jogos. Há também relatos de trabalhadores com dívidas em bancos e até com agiotas.
Prejuízo Emocional e Baixo Rendimento
Tenório relata que alguns funcionários usam os celulares da empresa para jogar, frequentemente durante a madrugada, o que afeta o rendimento e causa prejuízos emocionais.
“Percebemos que muitos jogavam até as 2h, 3h da manhã. O rendimento caiu e o impacto emocional era evidente”, explica.
Para abordar o problema, Tenório convocou uma reunião com todos os gestores para o início de junho e planeja um evento em julho com psicólogos, psiquiatras e gestores de recursos humanos.
Pesquisa e Medidas Restritivas
Daniel Sakamoto, da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), destaca que a preocupação com jogos de azar está crescendo entre os empresários, apesar da falta de dados concretos. “A sensação é que isso tem aumentado no mercado de trabalho, afetando tanto a saúde financeira quanto mental”, diz Sakamoto.
O setor de apostas esportivas online movimentou entre R$ 100 bilhões e R$ 120 bilhões no Brasil no ano passado, segundo a XP Investimentos. Pessoas de baixa renda gastam, em média, R$ 58 mensais em apostas, cerca de 20% da renda disponível.
Em resposta ao aumento das apostas, o governo restringiu o uso de cartão de crédito para pagamentos de jogos online. A nova medida, publicada pelo Ministério da Fazenda, permite apenas transferências eletrônicas, como Pix.
A CNDL vai incluir as apostas online na próxima pesquisa de hábitos de consumo para avaliar o impacto nas finanças pessoais. “Queremos saber se as pessoas admitem isso e qual é o impacto real”, explica Sakamoto.
Dependência em Jogos de Azar
O Ministério da Saúde ainda não possui dados precisos sobre o aumento de pessoas buscando ajuda para dependência em jogos de azar na rede pública. No entanto, o SUS atende esses casos através da Rede de Atenção Psicossocial (Raps).
Embora não haja uma política específica para o tratamento da dependência em jogos de azar no SUS, essa questão é abordada no contexto da saúde mental, devido à ligação com condições como compulsões e depressão.
BelfordRoxo24h: Aqui a informação nunca para.