Dispositivo criado em parceria com a Light promete revolucionar o combate aos furtos de energia que impactam diretamente o bolso do consumidor.

O estado do Rio de Janeiro é líder nacional em furtos de energia elétrica. Em 2023, foram desviados mais de 11 milhões de megawatts-hora (MWh), segundo levantamento da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica). Um dado alarmante revela que a cada 100 imóveis, 34 apresentaram algum tipo de desvio, atingindo tanto comunidades quanto bairros nobres.

Diante desse cenário, a Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com a Light e a empresa TRACEL, desenvolveu uma tecnologia inédita capaz de detectar furtos de energia com 100% de precisão e até quatro vezes mais rapidez do que os métodos tradicionais.

O equipamento, criado sob a coordenação do professor Henrique Henriques, funciona com um sistema de transmissão e recepção de corrente elétrica. Ao identificar diferenças entre a energia que entra no ramal e a que é medida pelo relógio, o dispositivo aponta possíveis adulterações e gera automaticamente o Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI), que é enviado à distribuidora via internet.

Além da eficácia, o dispositivo também reduz o tempo médio de inspeção de 20 minutos para apenas 5 minutos, otimizando equipes e reduzindo os custos operacionais.

Segundo Henriques, o crime tem relação direta com a violência urbana. “Furtos são mais frequentes em áreas controladas por tráfico ou milícia, o que dificulta a fiscalização”, explica. Ele também destaca que a sensação de impunidade e a falta de estrutura policial dedicada agravam a reincidência.

Outro ponto crucial é o impacto no bolso da população. De acordo com a ANEEL, parte dessas perdas — classificadas como “Perdas Regulatórias” — são repassadas diretamente nas tarifas de luz. Em outras palavras, quanto mais furto, mais caro o consumidor comum paga pela energia.

Apesar do avanço, o dispositivo ainda está em fase de testes e precisa passar pela homologação do INMETRO. A Light, que financiou o projeto, possui os direitos de comercialização e poderá definir os próximos passos da produção em larga escala.

Henriques alerta: o Brasil ainda investe pouco em inovação comparado a países como China, Índia e EUA. Ele defende parcerias entre empresas, universidades e governo para fomentar tecnologias que geram impactos reais na sociedade.

Se aplicada em grande escala, a tecnologia pode se tornar uma arma estratégica no combate aos furtos, protegendo a rede elétrica e gerando economia direta para o consumidor final.

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