Em um artigo no New York Times, o chefe de saúde pública dos EUA, Vivek H. Murthy, destacou a “crise mental entre jovens como uma emergência – com as mídias sociais desempenhando um papel significativo”. Murthy sugere que o Congresso dos EUA exija que as redes sociais tenham advertências similares às dos produtos de tabaco, alertando pais e adolescentes sobre os riscos ainda não totalmente compreendidos dessas plataformas.
Nos últimos dez anos, houve um aumento alarmante nos casos de solidão, ansiedade, depressão, comportamentos autodestrutivos e suicídios entre adolescentes, especialmente meninas. O economista David Blanchflower, em análise de dados de 82 países, observou uma mudança na tendência de felicidade ao longo da vida. Enquanto antes os jovens eram vistos como mais felizes, hoje são os mais infelizes, conforme também apontado pelo Relatório Mundial da Felicidade. Esse cenário coincide com a ascensão do uso intenso de redes sociais via smartphones.
Embora alguns críticos reconheçam uma correlação, mas não uma causalidade direta, vários indícios apontam para as redes sociais como uma causa relevante dessa crise. Pesquisas indicam que usuários frequentes dessas plataformas têm maior propensão a sofrer de distúrbios de humor, enquanto aqueles que se afastam das redes por pelo menos uma semana relatam melhorias significativas em seu bem-estar mental.
Relatos de pais e professores corroboram esses dados. Segundo a pesquisadora Kara Frederick, “crianças e adolescentes caminham como zumbis, absorvidos por seus telefones e conexões artificiais”. A vida familiar, o sono e a atenção são frequentemente perturbados pelo uso dessas plataformas, com riscos que vão desde vergonha pública e cyberbullying até assédio e extorsão sexual.
Estudos internos das próprias redes sociais também apresentam evidências preocupantes. Um relatório vazado do Facebook revelou que adolescentes culpam o Instagram pelo aumento nas taxas de ansiedade e depressão, uma percepção espontânea e consistente entre diversos grupos.
Para muitos pais, essa situação é desesperadora. “Uma das piores sensações é saber que seus filhos estão em perigo e não poder fazer nada a respeito”, disse Murthy. Sentindo-se desamparados diante do conteúdo tóxico e dos riscos ocultos das redes sociais, alguns pais estão tomando a iniciativa. Em São Paulo, um grupo de mães de uma escola particular propôs uma ação coletiva para adiar a entrega de celulares aos filhos até os 14 anos e limitar o uso de redes sociais até os 16. Essa iniciativa cresceu e se tornou o movimento Desconecta, presente agora em 18 estados e mais de 300 escolas no Brasil.
Regular as redes sociais para garantir a segurança de crianças e adolescentes é um desafio, mas medidas como conceder maior controle aos pais sobre o conteúdo acessado por seus filhos e responsabilizar as empresas por danos causados ou sofridos por menores podem ser passos importantes. Também é essencial impedir a exploração dos dados das crianças para fins de monetização.
Embora a demanda por provas definitivas de causalidade continue, Murthy alerta que “em uma emergência, não se pode esperar por informações perfeitas”. Reduzir o tempo de uso ou retardar a entrada de crianças nas redes sociais é uma medida prudente para mitigar os riscos envolvidos.
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