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Leia a carta desconhecida sobre o Descobrimento do Brasil

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O Descobrimento do Brasil foi apenas uma breve parada numa viagem que continuou rumo ao Oriente. E Pero Vaz de Caminha não foi o único a deixar um registro escrito da jornada.

Há 525 anos, em 13 de setembro de 1500, a frota de Pedro Álvares Cabral chegou a Calicute, na costa da Índia, depois do célebre encontro com os indígenas em Porto Seguro. O objetivo era estabelecer um entreposto comercial na cidade. Depois de um primeiro contato promissor, uma feitoria portuguesa foi instalada – mas acabou por ser atacada pelos locais, influenciados pelos muçulmanos que controlavam o comércio de especiarias da região e queriam evitar a concorrência. 

Em retaliação, Cabral bombardeou a cidade por um dia inteiro e depois se deslocou para Coxim, onde conseguiu estabelecer um ponto de apoio. Ele chegaria em Lisboa em 21 de julho de 1501, com 700 toneladas de especiarias.

Demorou para que sua viagem começasse a entrar para os livros de história como a que representou o descobrimento oficial no Brasil, em 22 de abril de 1500. No século XVI, o feito não recebeu o devido reconhecimento, em parte porque Cabral havia desagradado a monarquia, em parte porque as informações relativas às novas terras eram consideradas secretas. Posteriormente, vieram à tona dois relatos a respeito desta aventura.

O mais famoso, a carta de Pero Vaz de Caminha, foi resgatado em Portugal em 1773 e finalmente publicado em 1817. O segundo documento, a chamada Carta do Mestre João, seria impressa apenas em 1847.

Mas havia ainda um terceiro documento: a Relação do Piloto Anônimo. Foi o único que veio a público durante a vida de Cabral, em 1507, por obra do cartógrafo italiano Francanzano de Moltalbodo. Ele publicou o relatório em 1507, na cidade de Vicenza. “Montalboddo conta que realizou a tradução para o italiano de um texto em português, cujo original se perdeu”, relatam os editores de “A Carta de Pero Vaz de Caminha”, livro que reúne os três documentos.

A versão em português que se segue abaixo é posterior: a primeira tradução para o idioma dos viajantes foi publicada em 1812. Ela descreve a partida de Portugal, a chegada ao Brasil e as dificuldades encontradas no Cabo da Boa Esperança, no sul da África, quando quatro embarcações se perderam. O autor da carta original permanece desconhecido.

Leia a “Relação do Piloto Anônimo”, com ortografia atualizada

Capítulo I 

Onde o Rei D. Manuel em pessoa entregou a bandeira real ao Capitão 

No ano de 1500, mandou o Sereníssimo Rei de Portugal, chamado Dom Manuel de nome, uma sua armada de naus e navios às partes da Índia, na qual armada havia 12 naus e navios da qual armada era Capitão-mor Pedro Álvares Cabral, fidalgo. As quais naus e navios partiram e bem aparelhados e providos de todas as coisas necessárias para um ano e meio. Das quais 12 naus ordenou que 10 fossem a Calecute e as outras duas para a Arábia para irem a um lugar chamado Sofala porque queriam mercadejar naquele lugar, o qual lugar de Sofala acharam estar no caminho de Calecute. 

E assim as outras 10 naus levavam mercadorias que à dita viagem lhes fossem necessárias. E aos 8 do mês de março no dito ano estavam prontos, e naquele dia, que era domingo, foram à distância de duas milhas desta cidade a um lugar chamado Restelo, onde está uma igreja chamada Santa Maria de Belém, no qual lugar o sereníssimo rei foi em pessoa entregar ao capitão a Bandeira Real para a dita armada.

E na segunda-feira, que eram 9 dias de março, partiu a dita armada, com bom tempo, para a sua viagem. E no dia 14 do dito mês passou a dita armada pelas ilhas Canárias. E no dia 22 passou pelas ilhas de Cabo Verde. E no dia 23 separou-se uma nau da dita armada, de tal maneira que nunca mais se ouviu nada dela até hoje, nem se pode saber. 

Capítulo II 

Como correram as naus com tormenta 

Aos 24 dias de abril, que foi quarta-feira da oitava da Páscoa, houve a dita armada vista de terra, de que teve grande prazer. E chegaram à terra para verem que terra era, a qual acharam terra muito abundante em árvores e gentes, que por ali andavam, pela costa do mar, e lançaram ferro na foz dum rio pequeno. E depois de lançadas as ditas âncoras, o capitão mandou deitar um batel ao mar pelo qual mandou ver que gentes eram aquelas, e acharam que eram gentes de cor parda, entre o branco e o preto, e bem dispostas, com cabelos compridos e andam nus como nasceram, sem vergonha alguma, e cada um deles levava o seu arco com flechas, como homens que estavam a defender o dito rio. Na dita armada não havia ninguém que compreendesse a sua língua. E visto isto, os do batel voltaram ao capitão e neste instante fez-se noite, na qual noite houve grande tormenta 

E no dia seguinte pela manhã levantamos âncora e com grande tormenta andamos correndo a costa para o norte para ver se encontrávamos algum porto, onde a dita armada ficasse. O vento era sueste. Finalmente encontramos um porto onde lançamos âncora e onde encontramos daqueles indígenas que andavam nos seus barcos a pescar. E um dos nossos batéis foi até onde estes tais homens estavam e agarraram dois deles e levaram-nos ao capitão para saber que gente era, e, como se disse, não se compreenderam, nem à fala nem por sinais. E naquela noite o capitão reteve-os com ele. 

No dia seguinte mandou vestir-lhes uma camisa e um vestido e pôr um barrete vermelho, do qual vestuário eles ficaram muito contentes e maravilhados das coisas que lhes mostraram. Depois mandou-os pôr em terra.

Capítulo III 

Raiz de que fazem pão, e os seus outros costumes

Naquele mesmo dia que era a oitava da Páscoa, a 26 de abril, determinou o Capitão-mor ouvir missa, e mandou levantar um altar, e todos os da dita armada foram ouvir missa e sermão, onde se juntaram muitos daqueles homens bailando e cantando com as suas buzinas. E logo que foi dita a missa, todos se retiraram para as suas naus, e os homens da terra entraram pelo mar dentro até aos sovacos, cantando e divertindo-se. E depois, tendo o capitão jantado, voltou à terra a gente da dita armada, para se distraírem e divertirem com os homens da terra. E começaram a tratar com os da armada, e davam dos seus arcos e flechas em troca de guisos, e folhas de papel e peças de pano. E todo aquele dia se divertiram com eles. 

E encontramos neste lugar um rio de água doce e à tarde tornamos para as naus. E ao outro dia determinou o capitão-mor meter água e lenha, e todos os da dita armada foram à terra. E os homens daquele lugar vieram ajudar à dita lenha e água. E alguns dos nossos foram à terra donde estes homens são, que seria a três milhas da costa do mar e compraram papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o seu pão que comem os árabes. Os da armada davam-lhes guisos e folhas de papel em troca das ditas coisas, no qual lugar estivemos cinco ou seis dias. 

De aspecto, esta gente são homens pardos, e andam nus sem vergonha e os seus cabelos são compridos. E têm a barba pelada. E as pálpebras dos olhos e por cima delas eram pintadas com figuras de cores brancas e pretas e azuis e vermelhas. Têm o lábio da boca, isto é, o de baixo, furado, e nos buracos metem um osso grande como um prego. E outros trazem uma pedra azul e verde e comprida dependurada dos ditos buracos. As mulheres andam do mesmo modo sem vergonha e são belas de corpo, os cabelos compridos. E as suas casas são de madeira coberta de folhas e de ramos de árvores com muitas colunas de madeira. 

No meio das ditas casas e das ditas colunas para a parede põem uma rede de algodão dependurada em que fica um homem e entre uma rede e outra fazem uma fogueira, de modo que numa só casa estão 40 ou 50 camas armadas à maneira de tear. 

Capítulo IV 

Papagaios na terra de novo descoberta 

Nesta terra não vimos ferro e faltam-lhes outros metais. E cortam a madeira com pedras e têm muitas aves de muitas espécies, especialmente papagaios de muitas cores, entre os quais alguns grandes como galinhas e outras aves muito belas. E das penas das ditas aves fazem chapéus e barretes que usam. A terra é muito abundante em muitas árvores e muitas águas boas e inhames e algodão. Nestes lugares não vimos animal algum. A terra é grande e não sabemos se é ilha ou terra firme. Julgamos que seja pela sua grandeza terra firme. 

E tem muito bom ar e estes homens têm redes e são grandes pescadores e pescam peixes de muitas espécies, entre os quais vimos um peixe que apanharam, que seria grande como uma pipa e mais comprido e redondo, e tinha a cabeça como um porco e os olhos pequenos e não tinha dentes e tinha orelhas compridas do tamanho dum braço, e da largura de meio braço. Por baixo do corpo tinha dois buracos, e a cauda era do comprimento dum braço e outro tanto de largura. E não tinha nenhum pé em sítio nenhum. Tinha pelos como o porco e a pele era grossa como um dedo e as suas carnes eram brancas e gordas como a de porco. 

E nestes dias que estivemos, determinou o capitão dar a saber ao nosso sereníssimo rei o achado desta terra e de deixar ali dois degredados e condenados à morte que tínhamos levado na dita armada para tal fim. E imediatamente o dito capitão despachou um navio que levavam com eles com mantimentos além das 12 naus sobreditas. O qual navio levou as cartas ao rei na qual se continha quanto tínhamos visto e descoberto. E despachado o dito navio, o capitão foi a terra e mandou fazer uma cruz muito grande de madeira e mandou cravá-la no dito espaço e também, como se disse, deixou dois degredados no dito lugar, os quais começaram a chorar. Os homens daquela terra confortavam-nos e mostravam ter piedade deles. 

Capítulo V 

Uma tempestade tão grande que quatro naus se perderam 

Ao outro dia, que foi o dia 2 de maio do dito ano, a armada fez-se de vela para a sua viagem para ir à volta do cabo da Boa Esperança, o qual caminho seria através do mar mais de 1.200 léguas, isto é, quatro milhas por légua e a 12 dias do dito mês, seguindo o nosso caminho, apareceu um cometa para as partes da Arábia, com uma cauda muito comprida, o qual apareceu de contínuo 8 ou 10 noites. 

E um domingo, que eram 24 dias do dito mês de maio, seguindo toda a armada junta com bom vento, com as velas a meia árvore sem moneta por causa de uma chuva que tivemos no dia anterior, e seguindo assim, veio um vento tão forte pela vante e tão repentino, que não o notamos senão quando as velas ficaram atravessadas nos mastros. 

Naquele instante se perderam quatro naus com toda a sua gente, sem podermos prestar-lhes socorro algum. As outras sete que escaparam, estiveram em perigo de perder-se. E assim tomamos o vento de popa com mastros e velas rotas, e à misericórdia de Deus andamos assim todo aquele dia. E o mar inchou de tal modo que parecia que subíamos ao céu. E o vento de repente descaiu, embora fosse ainda tão grande a tormenta, que não tínhamos desejo de dar velas ao vento. 

E navegando com esta tormenta sem velas, perdemo-nos de vista uns e outros, de modo que a nau do capitão com mais duas seguiram outro caminho e outra nau chamada El-Rei, com mais duas, seguiram outro, e a outra por outro caminho. E assim passamos com esta tormenta 20 dias, sem dar uma vela ao vento.

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