O verão francês de 2025 teve apenas uma palavra de ordem: “Fora Bayrou” [François Bayrou, primeiro-ministro nomeado por Emmanuel Macron em dezembro de 2024 e derrubado na semana passada após perder voto de confiança no Parlamento].
Um refrão insistente, que buscava um alvo mais alto: o presidente da República. Nunca, na história recente do país, um chefe de Estado foi alvo de uma onda de hostilidade tão avassaladora.
“Revolução”. Era esse o título do livro-manifesto com o qual Emmanuel Macron anunciava sua ambição em novembro de 2016. Hoje, essa mesma palavra volta a atormentá-lo. O jovem Presidente, que na época conquistou o Eliseu em meio a um mar de bandeiras europeias, tornou-se o símbolo do fracasso do que se chama europeísmo.
Quando foi eleito em 2017, aos 39 anos, Emmanuel Macron tornou-se o presidente mais jovem da história da República Francesa. Hoje, Macron parece um homem envelhecido, ressentido, marcado pelo impacto com a realidade. Revolução, no sentido de espiral descendente, é o único manifesto que lhe cabe.
Sua trajetória é fulminante: estudos de primeira classe, filosofia e estágio ao lado do pensador Paul Ricœur — protestante inclinado à pós-modernidade cultural —, alguns anos no setor bancário, associação com Rothschild [banco de investimentos francês da família Rothschild, uma das mais influentes casas financeiras do mundo] e acumulação de riqueza, depois administração pública como alto funcionário, e então o Eliseu como conselheiro financeiro e vice-secretário-geral com François Hollande.
De repente, ministro da Economia. Então, funda um movimento que leva suas iniciais e, um ano depois, ainda sem ter completado 40 anos, conquista a presidência. Tudo na velocidade da luz. Seu primeiro desafio à ordem estabelecida foi: “a cultura francesa não existe”. Isso deixou a esquerda europeia em êxtase.
Foi Henry Hermand, um empresário socialista riquíssimo que morreu deixando aos herdeiros 220 milhões de euros, o primeiro a investir em Emmanuel Macron. Ou melhor, a construir a sua imagem de “homem novo”.
“Apaixonou-se” por ele e o apresentou ao Terra Nova, o think tank de inspiração socialista que ele apoiava, onde Macron aperfeiçoou a sua linguagem social. Hermand foi seu padrinho de casamento e lhe emprestou dinheiro para comprar uma casa em Paris.
Hoje, Macron é exatamente uma baguete que tentaram fazer crescer sem sucesso. Presidente da elite, sempre se apresentou distante da vida real.
Isso fica evidente na recente visita do rei Charles III: para o jantar à base de lagostas e macarons de rosa, gastou 475 mil euros — dinheiro público, obviamente, enquanto o orçamento francês vacila.
Quando chegou ao Eliseu, não era o centrista retratado na campanha eleitoral. O socialismo continuava sendo o fio condutor de sua ascensão: nos bastidores, Ismaël Emelien, estrategista e chefe de comunicação, já fora consultor da campanha de Nicolás Maduro em 2013.
O programa de Macron refletia essa marca: propostas de gastos públicos abundantes e atenção às mudanças climáticas como questão crucial. Adesão à economia de mercado, mas entendida como um instrumento a serviço de uma “justiça social” guiada pelo governo, mais do que pela liberdade de escolha.
Como muitos outros líderes do continente, Macron via na imigração a resposta ao declínio demográfico e ao envelhecimento da população. Gérard Collomb, histórico prefeito socialista de Lyon e escolhido por Macron como ministro do Interior, abandonou-o após poucos meses: o presidente não estava fazendo nada para conter a hemorragia de territórios da República que já haviam passado para a influência islâmica.
Reviravoltas sem vitórias
Durante a presidência de Macron, a França viu os últimos fragmentos de sua influência africana desmoronarem: uma série de golpes de Estado nas ex-colônias forçou a retirada das tropas francesas, imediatamente substituídas pela presença russa.
No Oriente Médio, a decisão de reconhecer a Palestina prejudicou as relações com Israel, sem, no entanto, conferir a Paris um papel relevante. O balanço do “macronismo” permanece, portanto, problemático.
No plano interno, a França parece mais frágil e dividida, atravessada por tensões sociais e políticas contínuas. No plano internacional, o país parece reduzido, incapaz de transformar as ambições de grandeza em resultados concretos.
Não é simples definir este período político: Macron mudou várias vezes de linha, realizando reviravoltas e contradições espetaculares, mas sempre com o ar de quem se percebe acima dos cidadãos, opositores e parceiros. Ele se autodenominou gradualmente — com certa modéstia — “primeiro dos alpinistas”, “Júpiter”, “mestre dos relógios”. Mas não venceu nenhum dos grandes desafios.
Dívida de 113% do PIB, déficit de 6%. Reformas essenciais, como a previdência, continuam paradas. E para piorar o quadro, há a impressão de que Macron está pronto para qualquer compromisso para permanecer no Eliseu: os diferentes primeiros-ministros por ele nomeados oscilaram entre aberturas à esquerda e propostas de novos impostos sobre os mais ricos, sem, no entanto, ir além de anúncios parciais ou convincentes.
Além disso, a França já estava partindo de uma posição sobrecarregada por uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Oito anos depois, a França de Macron parece um desastre perfeito. Com ele, o wokismo incendeia as praças, enquanto a maior população muçulmana da Europa dita o ritmo do medo: professores degolados, católicos e padres assassinados, a sombra da Irmandade Muçulmana que mantém em alerta o Ministério do Interior, porque agora estão infiltrados em todos os aparatos.
O país enfrenta guerrilhas urbanas periódicas lideradas por jovens imigrantes de segunda e terceira geração, sustentados pelo Estado, mas hostis a ele. As Olimpíadas de Paris 2024 entraram para a história como o espetáculo de uma decadência à medida de Macron, entre um mundo distópico, a insustentabilidade do ecologismo e as reivindicações woke. E foi com ele que o aborto entrou na Constituição.
Rótulo vazio
Os números falam por si: a dívida pública passou de 2.263 bilhões de euros em 2017 para mais de 3.345 bilhões em 2025, e a relação com o PIB de 98,8% para 113,9%. A indústria automobilística perdeu quase 40% da produção, que caiu de 2,2 milhões de veículos para 1,34 milhão.
Os estrangeiros irregulares dobraram, passando de cerca de 300-400 mil para 600-900 mil. Em 2024, foram registrados quase 50 atentados ou incêndios criminosos contra igrejas católicas e 854 atos anticristãos: quase três por dia. A cada duas semanas, uma igreja desaparece: entre vandalismo, incêndios, atentados e profanações, as igrejas estão perpetuamente sob ataque.
Agora que o chamado “macronismo” e a modernidade tecnocrática da eficácia já perderam força, deixando para trás pouco mais do que um rótulo vazio, resta-lhe admitir apenas uma coisa: o que se move na França é a mesma rejeição ao niilismo cultural do establishment que levou muitos eleitores nos Estados Unidos a eleger Trump presidente duas vezes.
Lorenza Formicola é ensaísta, jornalista e analista do mundo árabe e islâmico. Especialista em islamismo na Europa, concentra a sua investigação nas atividades de organizações e estruturas inspiradas na Irmandade Muçulmana.
Tradução: Rafael Salvi
©2025 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “L’eclissi di Macron, il disastro perfetto dell’enfant prodige“
Belford Roxo 24h – Aqui a informação nunca para.
Denúncias e sugestões: (21) 97915-5787
Siga também nas redes sociais: @BelfordRoxo24h