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Como Eduardo Bueno fez do ódio sua marca

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Não é de hoje que Eduardo “Peninha” Bueno demonstra desprezo pela vida de quem pensa diferente dele. 

Antes de celebrar o assassinato do ativista americano Charlie Kirk — e desencadear uma onda de repúdio público e profissional —, o jornalista e escritor gaúcho já havia festejado e até mesmo desejado a morte de muitas personalidades. Com um detalhe: todas são ou foram ligadas ao campo político da direita. 

Recentemente, em um podcast, Bueno comentou a morte do jornalista José Roberto Guzzo, veterano da imprensa e colunista da Gazeta do Povo, com um exultante “Que maravilha!”. Em outra entrevista, confessou ter “vibrado” com a partida de figuras como Ronald Reagan, Henry Kissinger, Margaret Thatcher e o ex-presidente Médici. 

Sobre Olavo de Carvalho, a quem chama de “escroto” e “terraplanista”, ele afirmou: “Um cara que mata urso não merece viver neste planeta” (referindo-se ao gosto do filósofo pela caça). 

A lista dos ainda vivos que, para Peninha, deveriam morrer é grande. E não basta deixar este mundo antes da hora: é preciso sofrer e, de preferência, descer ao inferno.  

Segundo o escritor, o músico Roger Moreira, do grupo Ultraje a Rigor, deve ter “um fim horroroso, desastroso”. Já a deputada estadual antifeminista Ana Campagnolo (PL-SC) “sequer deveria viver”. 

Durante a pandemia, Bueno sugeriu que o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, fosse “entupido de doses letais de cloroquina”. Na mesma época, ele ironizou os problemas de saúde sofridos pelo também deputado Mario Frias (PL-RJ), então secretário especial de Cultura. “Dá para chegar no quarto infarte?”, questionou. 

Para Donald Trump, em 2024, Bueno expressou o desejo de “não apenas não ser eleito como deixar de respirar” — e disse ter certeza de sua ida para o inferno. Ele ainda fez insinuações sobre um possível ataque perto da residência do bilionário Elon Musk em Austin, no Texas. 

Fogo no Planalto (com os Bolsonaros dentro) 

Mas ninguém recebeu tanto ódio de Peninha quanto Jair Bolsonaro. Questionado em uma entrevista se também comemorou o atentado contra o ex-presidente em 2018, ele lamentou que “faltou a viradinha [da faca]”. 

Nessa escalada de agressividade, o escritor chegou ao ponto de sugerir que o Palácio do Planalto “pegasse fogo” com Bolsonaro e sua família dentro. “Desprezível”, “nojento”, “asqueroso”, “repugnante”, “burro”, “torpe” e “estreito” são alguns dos adjetivos usados pelo escritor para se referir ao capitão. 

Eduardo Bueno também chamou o público das manifestações pró-Bolsonaro de “velhas cadelas filhas da p…*”, além de descer a lenha nos governadores presentes nesses eventos. 

Segundo Peninha, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) “contratou gente para matar na Baixada Santista” (ele também usou um termo grosseiro para fazer chacota com os traços faciais do governador de São Paulo). Romeu Zema (Novo-MG) foi “entupido de cloroquina”. E Ronaldo Caiado (União-GO) é um “senhor feudal constrangedor”. 

Falando em Caiado, a bancada ruralista e o agronegócio em geral são outros alvos constantes do escritor. De acordo com ele, o setor é comandado por “gigolôs de vacas” e “há anos vem sugando o Brasil”. 

Sobra raiva até para a música sertaneja. Em um dos episódios mais populares de seu canal no YouTube, Peninha afirma que o “sertanojo” é financiado pelos grandes produtores rurais e representa, esteticamente, o pior do “quiabo negócio”. 

“É [um gênero musical] transgênico, cheio de veneno, uma monocultura horrorosa”, afirma. Ele ainda recomenda que quem gosta de sertanejo se mude para o Mato Grosso, para “engordar comendo picanha”. 

Há, ainda, a extensa lista de apelidos nada carinhosos com os quais Bueno se refere aos seus inimigos unilaterais — “Quenga evangélica” (Damares Alves), “Marreca de Maringá” (Sergio Moro), “Barata descascada” (Kim Kataguiri), “Surfista calhorda” (Eduardo Bolsonaro), “Negro nazista” (Fernando Holiday), “Esqueleto repugnante” (General Augusto Heleno) e “Terra suja” (Osmar Terra), entre muitos outros.

Para a esquerda, apenas críticas ideológicas

Embora a virulência de seus ataques se concentre na direita, Eduardo Bueno se declara um “anarquista” e um “crítico feroz” da esquerda. Suas críticas, no entanto, são sempre de natureza histórica ou ideológica, jamais de ordem pessoal. 

A exceção fica por conta do professor e militante comunista Jones Manoel, fenômeno da internet (especialmente entre a audiência jovem) e provável candidato à presidência em 2026 por alguma legenda nanica. Mas a briga, aqui, tem outros contornos. 

Acontece que Manoel é historiador de formação, e denuncia uma suposta falta de rigor científico nos livros e conteúdos audiovisuais produzidos por Peninha. Para ele, o escritor gaúcho trata a História como “decoreba, um mero ajuntamento de fatos, datas, anedotas e histórias engraçadinhas”. 

Em resposta, Eduardo Bueno chama Jones Manoel de “limitado”, “recalcado”, “um ninguém”, “constrangedor” e “patético”. E, claro, tira da manga um apelido para atacar o adversário num nível pessoal: “Fordo”, uma mistura de “forte” e “gordo”. 

O comunista rebate afirmando que Bueno “não aguenta questionamentos” e é “incapaz de fazer uma reflexão real sobre as construções históricas”. “Ele faz vídeos dando chilique, delirando, babando, me atacando. Mas não vou atacar ele de volta, não vou falar sobre aparência”, diz. 

Do bom humor ao surto 

O que muitos se perguntam é como Peninha se transformou nesse personagem histriônico e ofensivo, sempre disposto a “pesar a mão” quando confrontado com opiniões divergentes das suas. Logo ele, até pouco tempo lembrado por seu bom humor e capacidade de utilizar a linguagem jornalística como ferramenta para tornar a História mais acessível. 

Quem viu Eduardo Bueno apresentando quadros na Globo, ou dando entrevistas no programa de Jô Soares, não o reconhece nos vídeos em que chega a beirar o surto.

No canal do YouTube da revista Oeste, o jornalista Augusto Nunes, colega de trabalho de Peninha nas décadas de 80 e 90, afirmou que “ele sempre foi maluco”, porém nunca se interessou por política. A mudança de foco, segundo ele, pode estar relacionada a seus “acertos com o governo”. 

Nunes se refere ao contrato sem licitação firmado por Bueno com a Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 3,27 milhões, para atualizar os dois livros que escreveu sobre a história do banco. 

Outros acordos incluem R$ 138 mil com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e uma autorização para captar R$ 862,5 mil para projetos com o Ministério da Cultura. A soma total de seus trabalhos com o governo Lula chega a quase R$ 5 milhões, segundo informações do site do jornalista Cláudio Dantas.

Ele também atuava como membro do Conselho Editorial do Senado, porém foi afastado da função na última quarta-feira (17), por pressão de parlamentares da direita indignados com sua reação à morte de Charlie Kirk. 

“Mais absoluto descontrole” 

Ao contrário de Augusto Nunes, a deputada Ana Campagnolo está certa de que Eduardo Bueno “não é um louco” e “tem plena consciência do que está fazendo”.  

“Ele adota a performance de insano para atrair os loucos de verdade e estimulá-los a executarem ações violentas que sabe que não pode praticar com as próprias mãos porque o levariam para a cadeia. E ele não é o único que está por aí fazendo isso”, diz a parlamentar catarinense, em uma mensagem compartilhada em suas redes. 

Mas ninguém melhor do que o próprio Peninha para explicar sua metamorfose. Segundo ele, a polarização política, sobretudo após a ascensão de Jair Bolsonaro, levou-o ao “mais absoluto descontrole”. 

A audiência, Bueno diz, também se deslocou. Os vídeos com comentários políticos passaram a ter mais engajamento do que os de História — e, para manter relevância, o escritor radicalizou o tom. “Se eu escrevi, defendo cada palavra. Mas no vídeo eu só falo m…*”, admite. 

Ele mesmo já revelou, sem pudores, a fórmula por trás de sua estratégia digital. Para Peninha, alcançar o sucesso na internet é um processo simples, basta dizer uma “frase bombástica com convicção”. 

O essencial é ser convincente, e o influenciador “não precisa nem acreditar na frase”. Mas o escritor vai além: de acordo com sua teoria, o cenário de maior impacto ocorre quando o indivíduo diz a sentença bombástica e “de fato acredita nela” — o que parece ser o seu caso sempre. 

Sobrou para o outro Peninha 

A controvérsia da última semana ainda fez uma vítima colateral e inesperada: o cantor e compositor Peninha, famoso por canções como “Sonhos”, “Sozinho” e “Adoro Amar Você”. 

Quando a polêmica sobre Charlie Kirk explodiu nas redes sociais, o artista — totalmente avesso a tratar de política em público — passou a receber uma enxurrada de ataques destinados ao “Peninha errado”.

Também conhecido por seu jeito tranquilão, ele precisou gravar um vídeo para, pacientemente, explicar que não tinha “nada a ver com isso”. Em seguida, o próprio Eduardo Bueno postou uma mensagem sobre a confusão. 

“O Peninha fake sou eu. O verdadeiro Peninha todo mundo sabe quem é. É aquele inventor de canções, aquele homem suave, gentil, aquele cara que há anos vem melhorando o Brasil, ao contrário de outros que andam por aí, né?”, afirmou, em mais uma de suas típicas alfinetadas.

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com Eduardo Bueno para solicitar uma entrevista, mas não obteve retorno até a conclusão deste texto.

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