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Como a direita pode se reerguer após a condenação de Bolsonaro

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A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro não é apenas um revés para a principal liderança da direita brasileira; ela representa um momento de reorganização forçada para todo um campo político que ainda busca consolidar seu caminho no país. 

A História, no entanto, registra exemplos de movimentos conservadores que superaram crises até mais graves. Muitos deles retornaram ao poder, com legitimidade renovada e grande capacidade de governar. 

A União Democrata-Cristã (CDU) estruturou a direita alemã no pós-guerra com base em liberdade política e estabilidade institucional. Nos últimos anos, a Alternativa para a Alemanha (AfD) mostrou outro caminho ao capitalizar crises econômicas e migratórias, além de apostar na comunicação digital para romper o isolamento.

Margaret Thatcher reverteu sua popularidade de apenas 25%, transformando a vitória britânica na Guerra das Malvinas em um símbolo de soberania nacional. Winston Churchill demonstrou essa mesma capacidade de renovação ao retornar ao poder em 1951, seis anos após sua derrota eleitoral, catapultado por um programa convincente para além de suas glórias passadas.

Charles de Gaulle transformou a crise institucional francesa de 1958 (causada pela Guerra da Argélia e a ameaça de conflito civil) em uma plataforma para seu retorno ao governo. Nas décadas de 1980 e 90, a direita do país também deu a volta por cima, superando a fragmentação interna e apresentando novas lideranças — como Jacques Chirac e Édouard Balladur. 

No Chile pós-ditadura, Joaquín Lavín e Sebastián Piñera lideraram a renovação conservadora com um discurso democrático e foco em gestões eficientes. Silvio Berlusconi demonstrou excepcional capacidade de comunicação política na Itália, usando seu império de mídia para denunciar o establishment, acusando-o de promover perseguição judicial contra seu grupo. 

No início deste século, David Cameron reposicionou o Partido Conservador britânico e conquistou os moderados depois de anos de rejeição. Mais recentemente, Donald Trump converteu acusações criminais em mobilização eleitoral nos EUA. Antes dele, Ronald Reagan reuniu uma direita dispersa ao combinar valores cristãos, liberalismo econômico e nacionalismo. 

O japonês Shinzo Abe, que havia renunciado em 2007, demonstrou uma notável resiliência, retornando ao poder após elaborar, com novos aliados, um programa de governo robusto e diversificado. Na Hungria, Viktor Orbán consolidou uma hegemonia conservadora por meio do investimento massivo em uma infraestrutura cultural (think tanks, escolas de formação política, produção de filmes, etc.).

A partir de uma pesquisa histórica comparativa, identificamos dez estratégias recorrentes que costumam marcar recuperações conservadoras mundo afora. E convidamos o cientista político Márcio Coimbra, presidente do Instituto Monitor da Democracia, para analisar como cada uma delas pode oferecer lições valiosas para o contexto brasileiro atual. 

1. Formação de novas lideranças

Para se reerguer politicamente, o movimento conservador muitas vezes deve se desvincular de legados controversos ou do forte personalismo. O objetivo é projetar proximidade, acima de tudo, com os eleitores mais jovens e situados nas grandes cidades. 

“Para a direita brasileira, a lição é clara: conquistar novamente o eleitorado moderado e urbano, que se afastou mais pelo estilo agressivo da política do que por discordância ideológica”, afirma Márcio Coimbra. Segundo ele, “isso exigiria novas figuras e um programa que dialogue com demandas contemporâneas, sem abrir mão de princípios liberais e conservadores”. 

2. Reformulação cultural, adaptação ideológica e apelo ao centro 

A tática consiste em modernizar o discurso e a simbologia, aproximando-se de pautas moderadas ou de preocupações sociais — mas sem abandonar os princípios fundamentais. Conquistar o eleitor de centro é um passo necessário para derrotar a esquerda. Foi o que aconteceu em 2018, quando Bolsonaro venceu com o apoio de eleitores moderados.

“Essa capacidade de reposicionamento estratégico pode ser decisiva para a direita brasileira, que ainda enfrenta o dilema entre a fidelidade ao bolsonarismo e a necessidade de conquistar um eleitorado mais amplo”, diz Coimbra.

3. Construção de coalizões amplas e pragmáticas 

Superar a fragmentação interna e unir diferentes correntes da direita é crucial para recuperar o poder e garantir governabilidade. Conservadores, liberais econômicos, nacionalistas e democratas-cristãos devem formar uma frente ampla coesa e competitiva eleitoralmente. 

Na avaliação de Márcio Coimbra, “o recado ao Brasil é direto”. “O caminho passa por unir liberais, conservadores, democratas-cristãos e até bolsonaristas moderados em uma frente ampla, que se apresente não como herdeira de um governo anterior, mas como alternativa democrática e competente para o futuro”, afirma o cientista político. 

4. Aproveitamento estratégico de crises 

Crises institucionais, econômicas, sociais ou de segurança podem ser catalisadores para o retorno da direita. A capacidade de transformar esse tipo de situação em oportunidade e a construção de narrativas de “liderança necessária” são essenciais. 

Aqui, Coimbra faz uma ponderação: “Crises podem fortalecer lideranças, mas só terão efeito duradouro se acompanhadas de uma agenda positiva que vá além da simples oposição ou da nostalgia de um governo passado”. 

5. Comunicação estratégica 

A ideia é utilizar os meios digitais e tradicionais para articular mensagens acessíveis e otimistas, alcançando novas audiências e influenciando a percepção pública. 

“Tanto Churchill, com seu apelo ao espírito nacional, quanto Cameron, com sua modernização da linguagem conservadora, demonstraram que a direita consegue ampliar sua base quando se adapta culturalmente ao seu tempo sem perder identidade”, diz Márcio Coimbra. 

6. Construção de uma infraestrutura de longo prazo 

Movimentos conservadores devem estabelecer uma infraestrutura ideológica e cultural que transcenda lideranças e crises pontuais — o que inclui think tanks, escolas de formação política e partidos presentes em níveis locais. 

Para Coimbra, a sobrevivência depende dessa institucionalização. “A lição para o Brasil está em que a direita precisa de partidos sólidos, com programas e quadros próprios, e não apenas de plataformas eleitorais de líderes individuais.” 

7. Agenda programática clara

Partidos de direita bem-sucedidos elaboram programas coerentes, viáveis e centrados em soluções práticas, como reformas econômicas liberais e eficiência administrativa. Também destacam e reinterpretam feitos positivos de governos anteriores. 

“Em vez de se definir contra o PT ou em defesa de Bolsonaro, a direita precisa oferecer sua própria ‘agenda para o Brasil’, com propostas consistentes de governo”, afirma o cientista político. 

8. Valorização da legitimidade democrática 

Para recuperar credibilidade, é importante promover a ruptura explícita com radicalismos do passado ou posturas autoritárias, além de assumir um compromisso claro com valores e instituições democráticas. 

O caminho, segundo Márcio Coimbra, é “uma autocrítica honesta sobre os excessos recentes, respeito às instituições e foco em uma agenda propositiva, capaz de reconquistar a confiança de elites, mídia e centro político”.

9. Resiliência política e transformação de adversidades 

Líderes fortes de direita demonstram notável resistência diante de acusações e processos judiciais. Muitos deles convertem crises em capital político ao denunciarem que são vítimas da perseguição do sistema. 

Sobre esse ponto, Coimbra adverte: “Essa estratégia mantém a base fiel, mas pode afastar moderados e tensionar ainda mais instituições. No Brasil, seria um movimento de alto risco, com potencial de isolamento político”. 

10. Ênfase nos valores cristãos e no nacionalismo

Tradições cristãs e o nacionalismo são eixos agregadores de identidade política para o conservadorismo. Esses elementos unificam a base em torno de uma agenda que vai além de questões puramente econômicas. 

Na visão de Márcio Coimbra, Ronald Reagan criou um “modelo de ouro” nesse sentido. “Ele soube unir economia de mercado com valores morais e nacionais. Apresentou uma visão positiva, formou lideranças e uniu direita e centro-direita em torno de um projeto nacional de prosperidade.”

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