InícioÚltimas Notíciasuma prova de fé no deserto do Saara

uma prova de fé no deserto do Saara

Publicado em

spot_img

“Histórias para Guiar Sua Jornada” (selo Vestígio) é o título do novo trabalho do premiado escritor brasileiro Ilan Brenman — autor de 80 livros, traduzidos para 17 idiomas. Desta vez, ele reúne contos milenares e tradições orais de diferentes povos, que tratam de temas universais (coragem, justiça, perdas, escolhas) e estimulam reflexões para o leitor contemporâneo.

“Uma ferramenta tão robusta como a história, que sobreviveu a guerras, cataclismas, perseguições políticas e religiosas, é essencial nos dias atuais, em que a fragilidade humana nunca foi tão evidente”, diz Brenman.

O recorte a seguir narra a experiência de um viajante solitário que se vê perdido no Saara. Entre miragens, silêncio e a iminência da morte, ele descobre que os maiores desertos são também interiores — e que apenas a confiança e a entrega podem fazer brotar a água da esperança.

O deserto representa perfeitamente a jornada individual e coletiva que todos nós enfrentamos na Terra. Caminhamos por ele na esperança de encontrar um oásis, sem perceber que, muitas vezes, ele esteve dentro de nós o tempo todo.

Não é à toa que grandes figuras religiosas passaram por desertos, enfrentando desafios e batalhando contra as areias que os cegavam para aquilo que realmente importa: nosso autoconhecimento.

A próxima história tem como pano de fundo um enorme e perigoso deserto. O Saara se estende por 12 países africanos e é o deserto mais quente e famoso do mundo. E foi justamente essa fama que levou Albert, um turista de outro continente, a embarcar em uma expedição para viver uma aventura inigualável; pelo menos era isso que dizia o folheto que vendia esse roteiro para viajantes do mundo inteiro.

A caravana em que Albert estava era composta por diversos camelos, viajantes de várias partes do mundo e os tuaregues, seus guias e um dos povos mais antigos do Saara. Todos vestiam roupas leves e longas, que protegiam tanto do calor escaldante do dia quanto do frio cortante da noite. As bagagens estavam abastecidas com comida, água e boas barracas.

A expedição começou e, já nas primeiras horas da jornada, Albert entendeu o que o folheto queria dizer. O silêncio quase absoluto, quebrado apenas pelo vento moldando as dunas e a vastidão do deserto fizeram com que ele se sentisse pequeno, mas não de um jeito ruim e sim como parte de algo maior. É preciso cada grão de areia para formar uma linda duna.

Mar de possibilidades

Albert era um homem solitário, alguém que se sentia invisível em um mundo que muitas vezes não fazia sentido para ele, e no deserto ele começou a se transformar. Mas foi à noite que o deserto o tocou ainda mais profundamente.

O céu, cravejado de estrelas, parecia colocá-lo diante de um mar de possibilidades. Dentro de uma grande barraca montada pelos tuaregues, Albert comeu, bebeu e ouviu histórias do povo do deserto. Os dias seguintes foram ainda mais extraordinários.

Seu entusiasmo pela vida começou a desabrochar justamente ali, em um dos lugares mais secos e inóspitos do mundo. Porém, tudo mudaria no dia seguinte.

Ao acordar, Albert ajudou o grupo a recolher os apetrechos do acampamento. Amarrou os suprimentos nos camelos, auxiliou outros viajantes a montarem nesses animais extraordinários e mastigadores incansáveis, os famosos ruminantes. A expedição recomeçou e, após dez minutos deserto adentro, Albert percebeu que havia esquecido seu diário no acampamento.

Sem avisar os guias e sendo o último da fila, puxou as rédeas de seu camelo, que batizara de Camil, e voltou para buscar aquelas palavras nascidas na areia e que talvez nunca mais seriam replicadas. Ao chegar ao local, desmontou de Camil (aliás, a descida de um camelo é uma experiência inesquecível), encontrou seu diário e se preparou para partir.

Mas, ao tentar subir novamente, Camil se assustou e saiu em disparada, levando consigo todos os suprimentos essenciais para a sobrevivência num deserto. Albert ficou paralisado, o coração disparado. Tentou se acalmar, convencendo-se de que os guias perceberiam sua ausência e voltariam para buscá-lo.

Conforme as horas passaram e o sol escaldante castigava o seu corpo, a certeza foi se esvaindo como areia entre os dedos. Ele tomou então uma decisão: caminhar.

Sabia que, no deserto, as dunas mudam de posição com o vento, apagando qualquer referência visual. Ficar parado poderia ser ainda pior.

Albert andou por horas e encontrou nada além de areia e mais areia. A sede era insuportável e o desespero começou a brotar em seu coração. Tudo o que sentira nos dias anteriores começou a se dissipar como miragens ao vento.

A primeira noite foi cruelmente fria. Ele dormiu pouco, encolhido, tremendo. Na manhã seguinte, reiniciou sua busca. Subiu e desceu dunas, gritou ao vento, procurou algum sinal de vida. Essa cena se repetiu por três dias seguidos.

Seus lábios estavam inchados e rachados, o corpo quase colapsando, e sua esperança sendo esmagada pelo sol indiferente ao seu sofrimento. Quando suas últimas forças estavam se esgotando, Albert avistou algo ao longe: uma linda tamareira que se erguia no meio do nada.

Seria uma miragem? Ao seu lado, uma bomba de água enferrujada.

Ele tirou energia lá do fundo da sua alma, se levantou e foi até a bomba. Começou a balançar a manivela: bombeando, bombeando e bombeando sem parar. Nada acontecia, além do barulho metálico e seco que saía das engrenagens.

Desolado, Albert se sentou sob a tamareira e olhou para o céu, aceitando seu destino. Mas, ao quase desistir, notou algo preso no lado oposto da bomba: uma garrafa vedada com uma rolha e um bilhete. Com dificuldade, rastejou até lá e pegou a garrafa.

Abriu o bilhete e leu: “Para funcionar, a bomba precisa ser preparada com toda a água desta garrafa; despeje-a toda no vão da manivela. E, por favor, não se esqueça de deixá-la cheia antes de ir embora”.

“Pode acreditar”

Albert não podia acreditar. Ele arrancou a rolha com a boca e viu que a garrafa estava cheia de água. Água! Estava prestes a beber o líquido da vida, quando algo o deteve.

E se a carta fosse verdadeira e funcionasse? Se ele bebesse somente a água da garrafa, mataria a sua sede momentânea, mas não aguentaria muito tempo no meio do deserto com apenas aquela quantidade de água.

Um verdadeiro de dilema de vida e morte assombrou o espírito dele, mas tomado por uma força que jamais sentira, a de poder acreditar em sua intuição e segui-la, Albert derramou toda água no vão da manivela e começou a bombear como se estivesse fazendo uma massagem cardíaca num homem à beira da morte.

Os rangidos começaram como antes, metálicos, mas o barulho foi mudando e o primeiro fio de água cristalina começou a jorrar. Albert, com olhos molhados, foi enchendo a garrafa e bebendo-a aos poucos, mas constantemente. Adormeceu na sombra da tamareira e teve forças até para alcançar aquelas frutas adocicadas como mel e se deliciou com tâmaras do Saara.

Após três dias, Albert estava pronto para caminhar novamente. Antes de partir, encheu a garrafa, vedou-a com a rolha e, ao colocá-la de volta onde a encontrara, percebeu um caderninho com um lápis. Pegou o bilhete original e acrescentou uma mensagem: “Pode acreditar, funciona”.

Dois dias depois, Albert foi encontrado por um dos tuaregues da expedição. O guia, ao ouvir sua história, sorriu e disse: “Você viveu uma experiência inigualável!”.

Albert lembrou imediatamente do folheto da agência e sorriu para si mesmo. Subiu no camelo do tuaregue e iniciou sua jornada de volta, levando consigo uma lição que jamais esqueceria. Precisamos acreditar que, ao entregarmos o melhor que temos, sempre receberemos muito mais de volta.

Belford Roxo 24h – Aqui a informação nunca para.
Denúncias e sugestões: (21) 97915-5787
Siga também nas redes sociais: @BelfordRoxo24h

Artigos mais recentes

Por que os espanhóis agora são mais ricos que os sul-coreanos

Um trabalhador sul-coreano trabalha em média as 40 horas semanais previstas por lei, mais...

Quanto custa um PC gamer para rodar Battlefield 6?

Battlefield 6 sequer foi lançado e já se tornou um verdadeiro sucesso para a...

Quando Demon Slayer Castelo Infinito será lançado no streaming? Veja o que esperar

A espera dos fãs finalmente acabou. Lançado em julho no Japão, o filme Demon...

20 Vagas de Emprego na Baixada Fluminense – 13/09/2025

20 vagas de emprego publicadas hoje (13/09/2025) na Baixada Fluminense — Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti, Queimados e Belford Roxo. Links oficiais do RioVagas e RJ Empregos para candidatura.

Mais como este

Por que os espanhóis agora são mais ricos que os sul-coreanos

Um trabalhador sul-coreano trabalha em média as 40 horas semanais previstas por lei, mais...

Quanto custa um PC gamer para rodar Battlefield 6?

Battlefield 6 sequer foi lançado e já se tornou um verdadeiro sucesso para a...

Quando Demon Slayer Castelo Infinito será lançado no streaming? Veja o que esperar

A espera dos fãs finalmente acabou. Lançado em julho no Japão, o filme Demon...