Mesmo diante das dificuldades na safra de cana-de-açúcar 2024/25, principalmente devido à seca no Centro-Sul e aos incêndios em São Paulo, o mercado de etanol no Brasil deve manter-se estável. Esse cenário se deve ao aumento significativo na produção de etanol de milho, segundo análise de Breno Cordeiro, da consultoria StoneX.
Para a safra atual, que termina em março de 2025, a previsão é de uma moagem de 593 milhões de toneladas de cana, o que representa uma queda de 3,2% em comparação com o ciclo anterior. Essa retração reflete uma produtividade impactada pelas condições climáticas adversas. Em contrapartida, a produção de etanol a partir do milho deve crescer 30%, compensando os efeitos negativos na oferta do biocombustível derivado da cana e resultando em um aumento de 1,2% na oferta total de etanol.
A demanda por etanol no mercado interno permanece aquecida, especialmente para o tipo hidratado, com projeções apontando para 20,9 milhões de metros cúbicos consumidos em 2024, um aumento de 30,3% em relação ao ano anterior. No entanto, os incêndios e a seca trazem preocupações para o futuro, com expectativas de queda na produtividade para a safra 2025/26. Caso essa tendência se confirme, o Brasil pode ver uma retomada na paridade de preços entre o etanol e a gasolina, o que poderia estimular os consumidores a optar pelo combustível fóssil.
Cordeiro observa que essa mudança de comportamento já era esperada como parte do ciclo natural do mercado desde 2021/22. Com a entressafra da cana se aproximando e os estoques começando a diminuir, os preços do etanol nas usinas devem voltar a subir, o que pode reduzir a vantagem que o biocombustível tinha em relação à gasolina.
Para a safra 2025/26, a StoneX projeta uma oferta total de etanol mais baixa, em decorrência da redução na colheita de cana e do aumento no uso da matéria-prima para produção de açúcar. Estima-se uma queda de 2,8% na produção de etanol, apesar do crescimento na produção a partir de milho e outras fontes.
No que se refere às exportações, a expectativa é de um aumento de 5% nos embarques de etanol em 2025/26, enquanto as exportações de açúcar tendem a desacelerar. Esse movimento deve gerar um incremento na receita das usinas, que passarão a priorizar o mercado internacional.
Embora o mercado de açúcar ainda enfrente incertezas, especialmente com os impactos das queimadas e da seca, a maximização do diferencial de preços em relação ao etanol deverá levar a uma maior destinação da cana para a produção de açúcar. Esse direcionamento pode chegar a 51% do mix das usinas.
Os analistas Marcelo Di Bonifacio Filho e Rafael Borges destacam que o comportamento futuro do mercado de açúcar permanece incerto, com os agentes acompanhando o desempenho da nova safra no Hemisfério Norte e possíveis aumentos de produtividade na Índia, que recentemente decidiu redirecionar parte da produção de cana para o etanol, o que pode afetar o equilíbrio global entre oferta e demanda.
Assim, o mercado segue atento a esses fatores, com variações no preço do açúcar demerara em Nova York, que registrou uma alta acumulada de 9,1% no último trimestre de 2024, sem um direcionamento claro para o futuro.