O Analista de Pato Branco nunca ouviu falar de seu colega bageense – que Deus o tenha! No mais, os dois exercem atividades iguais, mas distintas. O gaúcho era freudiano e curava neuroses na base do joelhaço; o paranaense é no máximo pablomarçaliano e não cura nada. O negócio dele é ajudar políticos a tomarem decisões com base em tudo isso que se verá a seguir.

Porque acaba de bater à porta do analista um jovem deputado de direita que ganhou a eleição passada graças a uma foto photoshopada com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Sempre com aquele sorrisão de marqueteiro no rosto (não sei como não tem cãibra!), o terapeuta aponta o divã para o paciente. Que se senta e com ele divide a angústia da vez.

Frouxo, vendido, traíra

— Analista, tô num dilema. A base quer anistia ampla e irrestrita. Mas no Congresso só vai passar, se passar, essa anistia branda, light-quase-diet, do Paulinho da Força com o Alexandre de Moraes. E aí? O que é que eu faço? Se eu apoiar, viro frouxo, vendido e traíra. Se eu rejeitar, viro radical e me incluem num inquérito sigiloso.

O Analista de Pato Branco não hesitou. Pegou o iPad e abriu o PowerPoint. Na tela, o gráfico mostrava uma pizza meio marguerita, meio portuguesa. O deputado não entendeu nada, mas ficou com fome.

— Veja, deputado: 80% de 50% da direita quer a anistia total, mas 62% de 30% não vai lembrar do seu voto daqui a três meses. Isso se chama curva de esquecimento digital. É o que garante a sobrevivência dos políticos. A sua sobrevivência!

O deputado franziu a testa.

Compromisso com os conservadores

— Mas e quantos aos meus princípios? Minha ideologia? Meu compromisso com os conservadores? Minha fé?

— Deputado, política não é sobre princípios, é sobre percepção. E carisma. Como já dizia o sábio Pablo Marçal, “o líder de sucesso é aquele que cria escassez emocional para gerar engajamento social”. Ou seja, quem não chora, não mama.

— Mas se eu votar a favor da versão branda, não me reelejo em 2026!

— Tolice. Na pior das hipóteses, você tira um sabático e entra pro Legendários.

Diante da decepção do deputado, porém, o Analista de Pato Branco achou melhor bancar o pragmático. Ele se levantou, foi até a estante, tirou um exemplar novinho em folha, ainda plastificado, de “Neurolinguística Aplicada ao Voto” e, sem abrir o livro, como se a sabedoria lhe fosse transmitida por osmose, disse:

Storytelling eleitoral

— Vote a favor do acordão. Depois grave um vídeo dizendo que foi contra. Ou que, diante da gravidade da matéria ou da redação ruim do projeto, se confundiu todo. Entendeu? A esquerda já faz isso o tempo todo. É o que eu chamo de estratégia ganha-ganha de storytelling eleitoral.

O deputado coçou a cabeça.

— Mas isso não é incoerência? Não é… desonestidade?

O analista abriu seu sorrisão de marqueteiro e disse:

— Deixa disso, deputado! Coerência é coisa de filósofo grego. Político brasileiro tem é que pensar no próximo ciclo eleitoral. Vote como o seu interesse mandar, depois poste o que a base quer ouvir. Porque, no final das contas, no Brasil não importa o que você defende, e sim o que você diz que defende.