O Brasil precisa

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O Brasil precisa de silêncio. O que pode soar estranho vindo de alguém que também contribui para o ruído. Mas não me refiro a esse silêncio total e muitas vezes motivado pelo medo. Estou falando do silêncio da reflexão, aquele que permite que ouçamos nossa alma. Um silêncio no qual reconhecemos nossos erros e omissões, e que nos permita oferecer algo de verdadeiro ao outro.

O Brasil precisa de tempo. Muito tempo. Não bastam os 30 segundos que você vai passar lendo este texto, antes de se entediar. O Brasil precisa de horas que se transformam em dias, meses e anos, mas muito mais do que os quatro anos dos ciclos eleitorais. O Brasil precisa de homens dispostos a plantar as tamareiras cujos frutos talvez nunca venham a provar.

Humildade e esperança

O Brasil precisa de humildade. Ah, como precisa. A humildade de quem se sabe falho, insuportável e repugnantemente falho, que é pó e ao pó retornará um dia. O Brasil precisa da humildade sincera, que não se exibe nas redes sociais, até porque aí não é. A humildade daqueles que, a cada tropeço, se erguem e, com dignidade (mas não orgulho), continuam caminhando. Porque sim.

O Brasil precisa de esperança. Uma esperança que não se apoia em slogans nem em líderes passageiros, e sim em algo mais profundo, mais duradouro. Tampouco me refiro, aqui, à esperança sempre atrelada à prosperidade. Dinheiro é bom, mas a esperança é modesta, porque sabe que a verdadeira felicidade da vida custa muito pouco.

Ternura e mansidão

O Brasil precisa de ternura. E não há nada de piegas em dizer isso. Ternura, mas também pode chamar de pureza. No olhar, no gesto, no trato com os mais próximos. Ternura nas conversas que não buscam destruir o interlocutor e, se querem convencer, é pelo argumento de intenção pura. Ternura de quem quer mais compreender do que julgar.

O Brasil precisa de mansidão. De gente disposta a não retrucar a ofensa. A dar a outra face. Porque mansidão é força. Só ela interrompe o ciclo de ódio, ressentimento e vingança. Só a mansidão paira sobre as mentiras, inclusive aquelas que se conta para si mesmo. O manso é aquele que abre mão dos ganhos imediatos do mundo para não perder sua alma.

Perdão e confiança

O Brasil precisa de perdão. E não me venha falar que “quem perdoa é Deus”. Não! Deus perdoa por default; logo, o perdão de que o Brasil precisa é este mesmo, de mim para você e vice-versa. Perdão que reconhece o mal praticado e que, em o reconhecendo, se liberta da tentação da justiça humana, sempre tão injusta. Perdão que se perdoa no íntimo, sem alarde. No máximo com um suspiro demorado e trêmulo.

O Brasil precisa de confiança. Do fio do bigode. De pessoas que cumprem o que prometem e cujas palavras são seu maior tesouro. Aquela confiança que não é assim também tão ingênua e tola, né, mas que se expressa como um espelho: confio em você porque você confia em mim. Confiança sem a qual simplesmente não há vida em comum.

Gestos pequenos e encontros

O Brasil precisa de gestos pequenos. Desses que quase não se nota. Gestos de mãos que ajudam sem esperar recompensa, de palavras ditas sem cálculo, de atenções discretas que passam despercebidas pelos noticiários. Gestos que sustentam o tecido invisível da vida comum e que, de tão simples, parecem inúteis, mas são indispensáveis.

O Brasil precisa de encontros. De reunião. De duas ou mais pessoas com um mesmo e bom propósito. Encontros de iguais, mas também de diferentes que, duas ou três cervejas mais tarde, te garanto!, descobrirão improváveis afinidades eletivas. E, nesses encontros, o Brasil precisa de abraços. Sobretudo de abraços. Abraços apertados como este que estou lhe dando agora.

Lágrimas e risadas

O Brasil precisa de lágrimas. Lágrimas desavergonhadas, como as que verto neste momento. Para lavar a raiva e levar na torrente tudo o que cotidianamente nos ofende. Lágrimas para que nos lembremos de que um dia fomos crianças de joelho ralado à espera do terrível Merthiolate, mas não precisávamos ter deixado de ser. Lágrimas, lágrimas e lágrimas. Mais lágrimas. Até a exaustão e o sono reparador.

E, se precisa de lágrimas, o Brasil também precisa de risadas. Muitas risadas. Risadas à toa. Risadas pelas risadas. Porque a piada é boa, mesmo que à nossa custa. Ou porque a piada é ruim, ruim de doer, daquelas que só o Jones Rossi sabe contar. Rir, rir às pampas, de todo aquele que se acha grave e sério demais. Definitivamente, o Brasil precisa de risadas.

Beleza e gratidão

O Brasil precisa de beleza. A do corpo feminino, sim, por que não?, mas não só ela. A beleza de um pôr-do-sol entre dois prédios; do azul num azulejo antigo; da bendita palavra bem dita no momento certo. Beleza que não serve para nada e justamente por isso serve para tudo. Beleza que lembra ao coração: deixe de sofrer, a vida vale a pena! Beleza que é sempre uma manifestação de Deus.

O Brasil precisa de gratidão. Aquela silenciosa, quase tímida, de quem sabe que sempre recebe mais do que merece. Gratidão pelo pão de cada dia, que tenho certeza de que não te falta; pela família e pelos amigos; por mais um dia de muitos erros e alguns acertos (ou, com sorte, o contrário). Gratidão até pelo que é evidentemente errado e que, em assim sendo, evidencia o que é certo. Obrigado.

Memória e descanso

O Brasil precisa de memória. Das coisas ruins, sim, para que não repitamos os nossos erros e os erros dos nossos antepassados, mas sobretudo das coisas boas. Do humor das antigas marchinhas às vitórias no futebol, memórias que não precisam de nota de rodapé para fazer com que nos reconheçamos como brasileiros. O brasileiro precisa se lembrar de que em algum momento da sua vida já foi feliz. E que pode voltar a ser.

O Brasil precisa de descanso. Deitar a cabeça no travesseiro à noite e dormir. Sem preocupações outras que não as inerentes à vida. Sem elaborar planos de vitória contra os inimigos. E o mais importante: o descanso natural depois de um dia comprido de deveres cumpridos. Descanso para, no outro dia, acordar, admirar o sol nascendo por trás das montanhas, tomar um gole de café com leite. E recomeçar.

Compaixão e paz

O Brasil precisa de compaixão. De pena, de dó, da misericórdia. Compaixão pelos fracos e também pelos que se consideram fortes, mas não são. Não por muito tempo e, no mais, é tudo fingimento. Por isso mesmo, compaixão por quem finge coragem, mas por dentro é pura insegurança e um amontoado de misérias.

O Brasil precisa de paz.

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