A expansão do controle de facções criminosas e milícias sobre o mercado de internet já é realidade em diversas cidades da Baixada Fluminense. O esquema, que começou dentro das comunidades da capital, agora se espalha para bairros inteiros e áreas comerciais, afetando diretamente moradores de municípios como Duque de Caxias, Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti.

Segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, um dos casos mais recentes ocorreu no bairro Jardim Primavera, em Duque de Caxias, onde indivíduos foram flagrados cortando cabos de internet de provedores concorrentes na avenida São Paulo. A prática é parte de um esquema maior que envolve sabotagem de redes, roubo de equipamentos e a imposição forçada de serviços ilegais a moradores e comerciantes.

Monopólio do crime sobre serviços essenciais

De acordo com o delegado Pedro Brasil, titular da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados, as organizações criminosas tratam o mercado de internet como mais uma fonte lucrativa de exploração, ao lado do gás, transporte alternativo, mercadinhos e outros serviços.

“O monopólio do serviço está chegando no asfalto, nas adjacências das comunidades e também no interior do estado. É o que a gente tem mais dor de cabeça hoje”, afirmou o delegado.

As empresas de internet ligadas ao crime utilizam estratégias de expulsar operadoras tradicionais como Claro e Vivo, além de pequenos provedores locais. Em alguns casos, até mesmo empresas formalmente registradas na Anatel são usadas como fachada para manter o controle da facção ou da milícia sobre a região.

Impactos na Baixada

• Falta de concorrência: moradores ficam obrigados a contratar apenas os serviços controlados pelo crime.
• Preços abusivos e instabilidade: sem competição, o valor sobe e a qualidade do serviço cai.
• Expansão territorial: o esquema já não está restrito a favelas, atingindo também bairros de classe média e áreas comerciais.
• Lavagem de dinheiro: empresas usadas como fachada movimentam recursos de origem ilícita.

Situação exige ação coordenada

A Anatel informou que atua em parceria com a polícia em investigações envolvendo empresas de telecomunicações, mas reconheceu a dificuldade em identificar previamente os vínculos de provedores com o crime. Já entidades do setor, como a Conexis Brasil Digital, defendem a criação de leis mais rigorosas e uma ação coordenada entre Executivo, Legislativo e Judiciário para conter o problema.

Na prática, a Baixada Fluminense se tornou um dos pontos mais sensíveis dessa disputa pelo mercado da internet, reproduzindo o mesmo modelo de exploração que já domina outros serviços na região.

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